segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Irmãos Grimm: A Beterraba

Se é certo que os Irmãos Grimm são sobretudo conhecidos pelos contos infantis clássicos, que se viram adaptados e readaptados ao longo dos últimos séculos aos mais variados media, a descoberta principal ao ler estes livros é que esses são uma pequena minoria das muitas histórias que eles contêm. Algumas das outras parecem meros fragmentos de histórias mais desenvolvidas, ao passo que outras ainda soam a amálgama de material proveniente de origens diversas. E algumas são-no expressamente, pois não é raro que os Grimm assumam tê-lo feito nas notas que fazem sempre acompanhar os contos. Outras, no entanto, limitam-se a deixar essa ideia, pelo menos a mim. É o caso deste A Beterraba.

Trata-se de mais um daqueles contos em que se contrasta o comportamento de um irmão rico e de um irmão pobre. Este é bafejado pela sorte pois, tendo-se dedicado à agricultura depois de abandonar a vida das armas, nasceu-lhe uma beterraba prodigiosamente grande, que leva ao rei como presente, sendo por isso muito bem recompensado. O rico, invejoso e mau, não gosta nada e tenta primeiro suplantar o irmão, no que falha, recorrendo depois ao crime. Que também falha, claro, pois nestas histórias é raríssimo o bem não vencer, mesmo que por vezes o conceito de "bem" seja um tanto ou quanto peculiar.

Mas no fim parece-me ter havido um enxerto qualquer, pois o conto muda de figura. Começando como história exemplar, passa a farsa quando o irmão pobre é pendurado numa árvore enfiado num saco e é encontrado por um estudante. Este, prodigiosamente estúpido como os estudantes tendem a ser nestas histórias, vai ser enganado pelo homem, que assim se liberta.

É um conto estranho, e não particularmente bom, mas pelo menos tem a vantagem de não se tratar de mais um brevíssimo esboço. E tantos dos contos deste final de livro pouco passam disso.

Contos anteriores deste livro:

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