quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Manuel Jorge Marmelo: Fogo-de-Artifício

Lembram-se de quando o Porto foi gozado por meio país (ou pelo país todo, se calhar) porque um grandioso espetáculo de fogo-de-artifício, planeado para um ano novo aqui há anos, se findou em inexistência para desapontamento das multidões que já estavam na rua para o ver? Pois é precisamente a partir desse episódio que Manuel Jorge Marmelo parte para escrever esta história, adequadamente batizada como Fogo-de-Artifício. E, tal como aconteceu na vida real, também aqui o foguetório que inexistiu no momento certo acabou por ser lançado mais tarde, como uma espécie de compensação.

Mas na história de Marmelo, a noite em que o fogo-de-artifício acaba por ser mesmo lançado não termina sem um percalço que faz murchar a festa: um cadáver aparece a boiar no Douro. É aí que ela se separa da realidade.

É das circunstâncias que rodeiam essa morte que se faz este conto. Disso e de doses abundantes de ironia que tem como alvo principal o Porto e seus poderes autárquicos e como alvos secundários praticamente todas as outras personagens que passam por estas páginas. O conto é irónico do princípio ao fim, apesar de ter como tema principal um crime, um assassino a soldo e uma arma chamada Henriqueta. E isso é bom, tal como bom também é o tratamento que Marmelo dá à língua portuguesa. Bastante bom mesmo.

Consequentemente, estamos perante um bom conto. Um bom conto do qual gostei bastante, o que, como sabe quem é visitante assíduo aqui da Lâmpada, nem sempre acontece. Só lucro.

Contos anteriores deste livro:

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