Não sei como foi gerado este livrinho, mas imagino. E se aquilo que imagino corresponde à realidade, eu não lhe chamaria "antologia".
Atenção que não estou a menosprezar este O Sabre e o Corvo por lhe chamar "livrinho". A coisa é mesmo pequena; apesar de conter cinco histórias escritas por outros tantos autores, nem chega às 5200 palavras, o que corresponde a cerca de 15 páginas num livro médio. É pouca coisa. E esse é um dos seus problemas.
Não o posso afirmar, mas posso supor, que foi escrito num esquema de round robin. Para quem não sabe de que se trata, eu explico: embora o termo tenha outros significados, em literatura designa um exercício no qual uma série de autores vai elaborando uma história, à vez, partindo do que ficou escrito pelos autores anteriores e deixando os desenvolvimentos posteriores para os seguintes. Podem ser planeados ou não planeados (caso em que os autores tendem a deixar situações complicadas para os próximos resolverem, o que se pode tornar bastante divertido para quem escreve mas não é lá muito conducente a uma história bem amarrada e coerente), e podem reduzir-se a um só turno por pessoa ou englobar vários. No fim, caso a ideia seja publicar o texto em algum lado, é frequente que um dos autores (ou um subgrupo deles, por vezes) fique encarregado de limpar o texto, removendo pontas soltas e dando-lhe alguma coerência estilística.
Não sei se é isso o que aqui temos, mas parece-me que é, apesar dos cinco autores participantes só raramente terem escrito na sequência direta do que ficou escrito antes, preferindo produzir breves episódios aos quais chamaram contos. Eu não lhes daria esse nome, tal como não chamaria antologia ao conjunto, mas percebo que com a abordagem aqui seguida possa ter-lhes parecido o mais adequado.
A mim não parece e explico porquê: os textos funcionam bastante melhor enquanto partes de uma história única do que enquanto histórias individuais, mesmo integradas numa narrativa comum. Tendo lido as duas coisas em simultâneo, e havendo algumas semelhanças estruturais entre uma e outra, é inevitável comparar com o Terrarium, a que o João Barreiros e o Luís Filipe Silva chamaram "romance em mosaicos". E no entanto, estas histórias funcionam pior enquanto histórias independentes do que várias daquelas que compõem o romance em mosaicos.
Mas enfim: sendo esses os nomes que os autores lhes dão, serão esses os que eu vou usar.
A história genérica, isto é, o arco narrativo a que os contos desta antologia dão corpo em conjunto, é uma daquelas histórias de luta do bem contra o mal que tão comuns são na fantasia. Uma espada mágica tem por fim matar demónios e outras criaturas sobrenaturais malignas e escolhe quem a brande um pouco à semelhança das varinhas do Harry Potter. Esta é uma das influências que estão aqui claras; outra parece-me ser a Buffy.
Mas nada é simples, e um djinn em versão femme fatale consegue enganar um dos guerreiros do bem, transformando-o em corvo. E está explicado o título. No fim, tudo termina o melhor possível. Mas os autores não conseguiram, ou não quiseram, amarrar bem as pontas à história.
Em parte, a razão é a brevidade. É tudo apressado, os acontecimentos sucedem-se sem qualquer preparação, e as personagens assomam e somem-se tão rapidamente que nem há tempo para uma caracterização interessante nem para o leitor se interessar por elas. Alguns (nem todos) dos autores fazem o que podem para contrariar esta falta de solidez, alguns até mostram qualidades, mas a impressão que fica é a de um exercício de escrita rápido, que disso não passa. Um esboço.
Esta história e, talvez mais que a história, o universo criado, até teriam potencial para ser desenvolvidos em histórias maiores e quiçá talvez numa série. Mas não; mais uma vez, ficou-se pelo esboço, no qual o todo é bem capaz de ser pior que a soma das partes.
Eis o que fui dizendo sobre cada uma das histórias:
Este livro, como todos os livros publicados pela Fantasy & Co., está disponível gratuitamente aqui.
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