Quando eu era miúdo, um dos primeiros contos que li (e julgo que antes de o ler eu mo leram, mas disto não tenho certeza) era sobre um príncipe com orelhas de burro, e até hoje acho curioso que tantas histórias tradicionais, ou que as têm como inspiração, partam da premissa de mulheres que dão à luz animais, ou gente com características de animais.
Neste conto dos Irmãos Grimm trata-se mesmo de um animal, um burro, e está explicado o título de O Burrinho. E está explicado por que motivo me lembrei do príncipe com orelhas de burro; este tem de burro as orelhas e tudo o resto. E sim, é príncipe: a mãe é uma rainha que andava triste por não ter filhos, o que de resto já não é a primeira vez que aparece nestas histórias.
E sim, o conto tem o seu interesse, mas também tem muito em comum com outros contos que o antecedem. Como noutros há no príncipe burrinho uma espécie de feitiço, que acaba por se desfazer quando ele encontra uma princesa que dele gosta verdadeiramente, e um rei bom como sogro. Tudo muito romântico e razoavelmente bem elaborado em termos literários, ainda que alguns dos acontecimentos apareçam de forma gratuita, em episódios de deus ex-machina em que, de resto, as histórias tradicionais são pródigas. E no fim, naturalmente, vivem todos felizes para sempre.
Uma coisa é certa: não sendo dos melhores contos dos Grimm, esta história está bastante acima da maioria das que a antecedem de perto, pois nesta reta final do livro há muitos contos fracos, maus ou mesmo péssimos. Este é no mínimo razoável, e se não tivesse lido tantos contos onde já tinha encontrado tantos dos elementos de que é feito provavelmente encará-lo-ia como um bom conto.
Contos anteriores deste livro:
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