E realmente é essa a principal fragilidade deste livro: assim (de)limitado, aparecem nele uns quantos erros de casting mais ou menos flagrantes, e há ausências tão conspícuas como comprometedoras para um apanhado do humor português razoavelmente recente. Outra fragilidade clara é algum imediatismo de certos textos mais recentes, que foram claramente selecionados sem que o tempo tratasse de determinar se lhe resistem bem ou não e que lidos agora, alguns anos depois do livro editado, torna-se já claro que não. Em certos casos sublinha o erro de casting de alguns autores; noutros é pena, pois os seus autores teriam certamente material melhor, ou pelo menos mais resistente à erosão do tempo, que os representasse de uma forma mais adequada.
Mas fragilidades à parte, o livro é bom. É quase sempre divertido, às vezes de gargalhada, ocasionalmente de ir às lágrimas, e inclui material de quase todos os monstros sagrados do humor português da segunda metade do século XX. Não sendo um apanhado perfeito, que não é, é um bom apanhado. A organização, cronológica, perde a oportunidade de jogar com sinergias entre textos e autores, mas resolve de forma simples outros problemas mais ou menos bicudos, que aparecem sempre quando chega a hora de decidir o que vem antes e o que vem depois. Mas isso faz com que valha pelos textos e praticamente só por eles, ainda que as introduções sobre cada autor ou projeto tenham bastante interesse em si mesmas (apesar de serem a parte menos divertida da coisa).
Ah, sim, e para mim teve ainda o interesse acrescido de vários destes textos poderem ser enquadrados na literatura fantástica. Já comprei pelo menos um livro por causa deste (Casos do Beco das Sardinheiras), e julgo que não ficarei por aqui. Também é para isto que as antologias servem, quando são bem sucedidas.
Quanto ao que os textos valem, eis a muito longa lista do que eu fui achando deles ao longo de quase dois anos de leitura:
- O Meu Dia de Trabalho
- Noções de Linguística
- História Trágico-Marítima
- Carreirismo
- Intervalo
- Noivado
- Rifão Quotidiano
- Telefonema
- A Família
- Aliança
- Ela Canta...
- Dizem que sou um chão
- O Álvaro Gosta Muito de Levar no Cu
- É Importante Foder (ou não Foder)?
- Vem, Vulva Antiqüíssima e Idêntica
- «O Acto Sexual é Para Ter Filhos» — Disse Ele
- Que Vergonha, Rapazes
- De «A Cordial Botelha»
- Escalfeta
- Chaval
- Pois
- Guichê
- Resposta Universal
- Excerto de O Libertino Passeia por Braga
- O Sótão da Minha Avó
- O Cavalo
- Luísa Estrela
- Excertos de O Que Diz Molero
- Glória e Morte
- De Como Fiz a Minha Iniciação Desportiva, Hesitando Entre a Arte de Guarda-Redes e a de Pedróbolo da Quinta do Lopes
- De Como um Tio me Levou ao Académica-Benfica e eu Bati Palmas a um Golo do Teixeira, Sem Saber que Era Gaffe
- De Como Lavoisier Mostrou uma Pistola a um Guarda-Redes e Este Passou o Jogo a Dar Saltos, que lhe Custaram Vários Golos Absolutamente Defensáveis
- Embutido
- Discurso Preliminar
- Problema com Vista a Orientar os Interesses Infantis Para as Realidades Cotidianas
- Fastos II
- É Imperioso
- Pelos Pentelhos
- O Alto
- Al Kindi
- Um Leque
- O que me Vale
- Somos uns Queixinhas!
- Louvor e Simplificação de Pacheco Pereira
- O Tombo da Lua
- A Pedra Preta
- Epílogo
- O Peido e a Matemática Elementar
- Fragmentos de As Bodas de Deus
- Extrato de Coca-Cola Killer
- Acerca de Música
- To Ser or not to Estar
- A Moda e a Sociedade
- Breve Introdução a uma Teoria dos $ímbolo$ da Riqueza
- Excertos de "O Guardador de Retretes"
- Sífilis
- O Rei / A Diarreia ................. O Dia Rei
- As Cidades e as Selvas
- Milagre
- Ao Rés do Orgasmo
- Foda Relatada
- Momento de Poesia
- Excertos de Cá Vai Lisboa
- Fim de Estação
- Um Dia na Noite
- (sem título)
- O Padre
- Neura
- Piropo
- Nomes da Nossa Terra que Urgiria Esquecer
- Um Bigode e Peras
- Gosto Muito de Palavrões
- Quando Cristo Desce à Terra
- Pedro e a Voz
- As(os) Noivas(os) de Santo(a) António(a)
- Bom Dia. Eu Queria Comprar um Telemóvel
- O Homem do «BMW»
- «A Greve dos Controladores de Voo»
- Nunca se Deve Deixar uma Criança
- A Coleção Barbara Azul
- Em Virgem
- Maria Andrade
- O Império das Lãs
- Duas Irmãs Solteironas
- É Preciso Agir
- A Mim
- Na Antiga Casa da Minha Avó
- Enquanto as Coisas Levianamente se Dizem
- Procimamente (Director's Cut)
- Aliás, Entende uma Coisa, Lilas
- Ainda Hoje Me Recordo
- Última Hora
- Penúltima Hora
- Primeira Mão
- Extrato de "Dádivas Divinas"
- O Carteiro
- O Roque e a Amiga
- A Revolta dos Pesos e Medidas
- Onanismo e Pornografia
- Carta VII
- Desconversa da Treta
- Pedrito de Portugal
- ΘΑΛΑΣΣΑ ΤΟΥ ΠΡΩΙΟΥ
- U Disscurssu de Karluss Karvalhass
- Que a Força Esteja Contigo
- A Minha Palavra Preferida
- Porque não Odeio o Sporting (nem Sequer o FCP, que Mereceria)
- O Código Tonicha
- Desconto de Natal
- TV & Movies Shop
- Profissão de Sonho
- Este é que é o Homem da Conspiração
- Estranho Silêncio
- Manter o Lugar Fresco, mas Seco
- Empata-Passeios, Para Quando Legislação?
- Entrevista a um Homem-Bomba
- Taxista de Aeroporto Aldraba-se a si Mesmo
- Guterres Lança Livro de Colorir
- Tuning e Vestir Fato de Treino ao Domingo Vão Pagar IRS
- Nova Divisão Administrativa do País Encanta Pela Simplicidade
- Manhãs e Tardes da Televisão Declaradas Zonas de Calamidade
- Edital
- Canal Parlamento Mulher
- Caixa Negra
- Comprei Haxixe em Marrocos!!! E Agora?
- Estou Sentado ao Lado do Miguel Sousa Tavares!!!! E Agora?!
- Agenda Política de Santana Lopes
- Agenda de Freitas do Amaral
- Agenda de Paulo Portas
- Que Viva, Pelo Menos, a Democracia
- A Educação Física
- As Unhas dos Pés
- A Bíblia e a Lista Telefónica
- Um Tigre não Bebe Tisanas
- Um Domingo Liberal Para Você, ó Excelência!
- Svengali
- O Fiasco do Milénio
- Afinal
- Nós, os Gordos
- O Chupão
- A Pátria em Cuecas
- O Ginásio
- Vozes
- Chamada
- Só Vejo Sifões à Minha Frente
- A Cotonete de Luís Figo
- Um Roupão Para José Sócrates
- Psht ó Chefe
- Jornalismo do Bom
- Conto de Natal
- (sem título - aforismos de Nuno Costa Santos)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.