Ghostgirl - A Rapariga Invisível (bibliografia) é um romance juvenil, escrito por Tonya Hurley, claramente a pensar em ser lido por meninas, sobre uma miúda que morre na escola e se transforma em fantasma.
Quem já tenha visto aqueles filmecos ou seriezecas americanas sobre o ambiente dos liceus lá do sítio fica desde logo com uma boa ideia do que vai encontrar aqui. Quem já tenha lido as brandas histórias fantasmagóricas de Ray Bradbury, com os seus jovens protagonistas, fica também com uma noção razoavelmente concreta, embora Bradbury seja um escritor incomparavelmente melhor do que Hurley é e provavelmente alguma vez será.
A história está, portanto, repleta de elementos já vistos em outros sítios e pode ser descrita de forma rápida e popularucha como Gossip Girl meets The Addams Family. Não é nada o meu género, como quem costuma ler este blog facilmente compreenderá, mas por isso mesmo procurei dar ao livro um certo desconto.
No entanto, não foi suficiente. Embora a tradução pareça ter até melhorado a prosa da autora (é raro, mas desta vez, precisamente por isto estar tão longe dos meus gostos, tive curiosidade de ir ver o que as leitoras que em princípio se enquadrariam no público-alvo do romance tinham a dizer sobre ele, e foram várias as que se queixaram amargamente da fraca qualidade da escrita quando a da versão portuguesa nem é particularmente má), o facto é que a protagonista é de tal forma insuportável, e o enredo é de tal maneira pateta, que não houve desconto que bastasse para eu achar o livro minimamente aceitável.
A história gira em volta de Charlotte Usher (óbvia e ronronante piscadela de olho a Poe, ou até talvez também a Bradbury), uma loser de uns 15 ou 16 anos de idade, cuja única ambição na vida é ser popular e namorar um tal Damen, o gajo giro da turma, obviamente burro e atleta. Duh!, não é? Pois. Para isso, faz uns planos desastrados e acaba primeiro rechaçada e depois morta, quando um ursinho de goma se lhe aloja na garganta e a sufoca pateticamente à vista de toda a gente. Devia ter acabado aí a história, mas não: a dita Charlotte vira fantasma, ficando ainda mais obcecada pelo tal Damon, enquanto se vê transferida do liceu dos vivos para o liceu dos mortos, instalado nos recôncavos abandonados do liceu, onde estudam (bem... mais ou menos) todos os fantasmas da escola.
Segue-se uma série de peripécias, todas motivadas pela imparável vontade de a recém-fantasma se enrolar com o gajo, mas há uma chatice: ninguém a consegue ver. Ninguém, calma lá. Há uma rapariga que consegue, obviamente a gótica lá do sítio. Isto é clichés em cima de clichés numa periclitante torre inclinada. E lá vai a fantasminha travar amizade interesseira com a gótica, acabando por possuí-la e tudo (em possessão pura e fantasmagórica, seus mal intencionados, só essa), só para se aproximar do Damen que, claro, acaba por se revelar mais sensível do que parecia à partida. Toca em fundo uma boyband qualquer tum-tss-tum-tss-tum.
Tudo muito, muito tolo.
Mas a verdade é que, se bem me lembro dos meus tempos de secundária, há mesmo teens deste género, nas tintas para tudo a não ser os gajos giros que lhes passam pelo radar. Suponho que essas possam achar este livro divertido ou até talvez, quem sabe, bom. Qualquer pessoa que tenha nem que seja uma unha feminista, no entanto, deve achá-lo perfeitamente lamentável. Eu li até ao fim porque sou teimoso nas leituras e as coisas têm de ser invulgarmente péssimas para as deixar a meio. Este livro não é invulgarmente péssimo, isso não é. Mas é mau. Não o aconselharia a ninguém.
Este livro foi-me enviado pela editora, numa oferta não solicitada (que me surpreendeu bastante, diga-se de passagem).
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