Benjanun Sriduangkaew está presente nesta antologia com três contos.
Annex é uma história de ficção científica ambientada entre alienígenas, com um clima muito virado para a space opera. A história é de subversão, sobre uma conspiração para esconder e difundir ideias através de uma forma que escape à deteção das autoridades de um superestado autoritário chamado Hegemonia. Como? Através de uma canção. É uma ideia curiosa, mas não gostei da forma como foi posta em prática.
Vector é outra história de ficção científica, mas esta passa-se na Terra, numa Terra futura devastada mas não destruída (ainda) por uma guerra entre a China e os Estados Unidos, e descreve, numa prosa burilada, poética (até algo "purpúrea", há que dizê-lo), a autonomização de uma inteligência artificial. De novo, a ideia pareceu-me bem melhor que a concretização. Talvez alguém um dia consiga fazê-lo bem, mas até lá mantenho a opinião de que poetizar uma história distópica de guerra e IA em fuga é destruir o impacto tanto da história como da linguagem.
Paya-Nak é uma história de horror, e a melhor das três, pois não só o horror se presta bastante melhor do que a FC ao estilo rebuscado de Benjanun Sriduangkaew, como é uma história inspirada pelas lendas do sudoeste asiático sobre criaturas mitológicas serpentinas que vivem no e à volta do rio Mekong, o que ajuda sempre a conferir uma cor local interessante. A história é complexa. Há nela, além do elemento folclórico, que desconheço em que ponto acaba e se transforma em criação própria, fantasmagoria, maternidade, amor. É em grande medida a história de uma mulher que dá à luz um monstro... ou talvez seja a história do fantasma dessa mulher. Uma história razoável, que só não considero boa porque é daquelas histórias que se leem e depressa se esquecem (característica que partilha com as outras duas, de resto).
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