quinta-feira, 14 de julho de 2016

Lido: Os Mastros do Paralém

Os Mastros do Paralém é mais um conto realista de Mia Couto ambientado em tempos coloniais ou, mais propriamente, em tempos de guerra colonial. E é um belo conto, não só pela poesia que Mia Couto sempre incute no que escreve, mas pelo feito de explicar o Moçambique do tempo (e o de hoje também, no fundo), a guerra e a luta pela independência com recurso a mera meia dúzia de personagens. O protagonista é um velho negro, que só quer viver em paz sem ser incomodado por ninguém, numa aldeia sujeita aos caprichos de um colono branco e Tavares, por onde um dia passa um mulato que se vai instalar numa gruta no topo da serra. E daí surgem as histórias e os boatos, inevitáveis, e aparecem as ausências de filhos e a gravidez de filha, seguida do nascimento de neto. Pele clara, a do neto. E lá vêm mais histórias e boatos que vão levar a uma cadeia de desenlaces que põem à prova condições e formas de olhar o mundo. Mas numa teia, num novelo, onde branco e preto, atração e violência, colono e guerrilheiro se entrelaçam tornando-se quase indistinguíveis uns dos outros. É outro conto brandamente potente, este, sem moralidades fáceis. Porque, no fundo, cada homem é uma raça.

Contos anteriores deste livro:

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