Funes ou a Memória é mais um conto de Jorge Luís Borges em que se explora detalhadamente um fenómeno específico, elevando-o a um estado insólito de perfeição. No caso, é a memória prodigiosa, a memória perfeita, e a forma como essa capacidade vai ter impacto na vida do homem que a possui. E não, não se encontra aqui a maravilha benigna que se pode ver na série de TV policial Unforgettable. Funes, o protagonista desta história, é um recluso, vítima de um tal detalhismo mnemónico que o deixa incapaz de funcionar no mundo real, pois, para o fazer, a criatura humana tem de ser capaz de criar abstrações genéricas, categorias básicas, e para isso tem de esquecer os pormenores que individualizam cada coisa, concentrando-se nas suas características gerais. Este é mais um bom conto de Borges, mesmo colidindo de frente contra o receituário da escrita comercial que tão popular se tornou nos últimos tempos (não mostra quase nada; conta quase tudo), ou também por isso, que se debruça, com sensibilidade e inteligência sobre questões bastante profundas. Contudo, falta-lhe qualquer coisa para atingir o grau de assombrosa perfeição de alguns dos outros contos deste livro. Com este não me caiu o queixo.
Contos anteriores deste livro:
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