Sermão Contra a Imaginação é uma vinheta fantástica de Luiz Bras, a que o final — muito bom, por sinal — confere um distinto sabor a horror, sobre um rapaz de imaginação descontrolada. Ou melhor, demasiado potente, pois tudo o que imagina se concretiza e depois tem de encontrar alguma forma de imaginar algo capaz de contrabalançar o imaginado inicial. Se imagina uma máscara que confere a um francês (também imaginário) telepatia, tem de imaginar uma outra que confere a uma chinesa a contratelepatia. E por aí fora.
Há uma forte carga surreal nesta história que, pese embora ser bastante descritiva, o que poderia jogar em seu desfavor, tem no crescimento exponencial de seres imaginados e nos problemas que ele levanta, nomeadamente na relação do rapaz com o pai, um fio condutor eficaz. E claro que o tema verdadeiro da vinheta não é nem o rapaz nem a sua imaginação, mas a relação entre filhos imaginativos e pais castradores. Ou castradores em geral, aquelas pessoas cuja função na vida parece ser cortar asas e amarrar à terra quem nasceu para voar.
Mais uma boa história.
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