Embora por vezes pareça, a verdade é que H. P. Lovecraft não se limitou a escrever o seu horror cósmico protagonizado por Cthulhu e compinchas. Não só escreveu também poemas com fartura (alguns deles muito racistas, diga-se de passagem), como escreveu também muitos outros contos que não pertencem ao mythos, quase sempre de horror, tanto isolados como pertencentes a outras séries.
A Música de Erich Zann é um dos contos isolados, embora outros autores tenham mais tarde pegado na personagem e construído uma série a várias vozes a partir dela. É um conto de horror razoavelmente típico da viragem do século (XIX para XX, evidentemente), escrito em forma de depoimento e na primeira pessoa, por um narrador que conta a quem quiser saber um conjunto de acontecimentos que teria testemunhado nos tempos de juventude.
Lá se encontra o velho tema das ruas que como que se perdem misteriosamente da cidade (ainda recentemente aqui apareceu um exemplo português, embora com uma atmosfera bem diferente: o Beco das Sardinheiras), e nas quais se passam coisas prodigiosas. No caso, a coisa prodigiosa é um velho tocador de viola (a clássica, o violino grande) que mora no sótão da casa onde o narrador se hospeda e onde se deixa fascinar pela música que o outro toca. Mas homem e música estão envoltos em mistério, um mistério que é revelado no final da história, ainda que não por completo. Há entidades demoníacas envolvidas no assunto, naturalmente.
E eu, que me farto de dizer que não gosto de Lovecraft, até gostei deste conto. Não sofre daquela hiperadjetivação tão comum nos escritos deste autor, e que eu simplesmente detesto, não há propriamente daqueles paroxismos de horror inexplicável a acometer as personagens, que tendem a fazer-me revirar os olhos. É um conto relativamente despretensioso, com uma atmosfera opressiva bem esgalhada e um mistério que funciona, mesmo ficando incompletamente resolvido.
Não posso dizer que tenha gostado muito, mas gostei o suficiente para não dar por mal empregue o tempo de leitura.
Este conto foi obtido em PDF no Site Lovecraft, motivo pelo qual vai ilustrado com uma foto do sr. Howard e não com a imagem de capa, que não existe. Querendo, podem obtê-lo também, em ZIP, clicando aqui.
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