terça-feira, 10 de maio de 2022

Inês Montenegro: Vinho Fino

Cuidado aos alérgicos: este texto vai conter spoilers quase desde o início.

É bastante interessante, este conto de Inês Montenegro, mesmo apesar de não ter conseguido evitar despertar neste leitor em concreto ressonâncias com outras coisas lidas (e vistas) anteriormente. Com efeito, o tema da invasão da Terra por criaturas parasíticas vindas do espaço é um tema muito batido, tanto na literatura como em filme ou na TV (só para dar dois exemplos entre muitos possíveis temos na literatura Heinlein, com The Puppet Masters, e no cinema o filme It Came from Outer Space, de Jack Arnold, com história de Ray Bradbury). Mas em Vinho Fino Montenegro trata-o bem, produzindo uma história eficaz e bem escrita sobre uma espécie inteligente de parasitas que se espalha pelo universo viajando de mundo em mundo e colonizando-os. FC misturada com horror, como a generalidade deste tipo de história.

E, claro, chegam à Terra. Ou mais especificamente a um ponto qualquer do Douro vinhateiro, onde os parasitas decidem instalar-se nas uvas à espera de serem ingeridos pelo próximo hospedeiro. Mas as coisas a princípio não lhes correm bem — os alienígenas (i.e., os animais da nossa biosfera) são-lhes demasiado alienígenas e têm dificuldade em controlá-los, acabando por revelar a sua presença, de certa forma, cedo demais. Como consequência por pouco não são exterminados. Mas pode-se sempre contar com a inconsciência e a chico-espertice das pessoas, e no fim tudo se salva.

Para os parasitas alienígenas, não necessariamente para nós.

O conto é bom, mesmo apesar da fraca originalidade da ideia base. E lê-lo agora, nesta fase da epidemia de covid, deixa um gosto bem amargo na boca porque é impossível não constatar até que ponto é acertada a ideia de que alguém, algures, há de arranjar forma de lixar o esforço de todos os outros.

Deprimente, dizem? Ná! Impressão vossa.

Conto anterior desta publicação:

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