A Aposta (bibliografia) é, como já terão percebido pelo boneco aqui ao lado, mais um conto fantasmagórico de Hugo Rocha. Este, no entanto, é diferente dos outros. Aqui não se encontra sobrenatural algum, exceto nas cabeças supersticiosas e assustadiças das personagens, e o terror mais ou menos macabro que é de regra encontrar nas fantasmagorias é substituído pelo humor. Passada algures numa aldeia minhota, a história relata as consequências que teve uma aposta com uns copinhos de taberna a mais. Um homem, armado em valente, aposta com dois amigos que é capaz de passar uma hora inteirinha no cemitério naquela mesma noite, sozinho entre campas e as almas penadas, e os amigos, claro, não se fazem rogados. Todos depressa se arrependem, mas nenhum quer dar parte de fraco perante os outros e lá vão, esquecendo-se de que nessa mesma tarde tinha havido o enterro de um dos homens da aldeia e desconhecendo que a viúva, meio doida de dor, tinha decidido ir passar a noite ao relento no cemitério para fazer companhia ao marido. Tudo gente do campo, tudo gente com medo de assombrações, tudo gente que está à espera de tudo menos de encontrar outra gente no cemitério. Não se segue propriamente gargalhada, mas sorriso sim. Este é um conto divertido, que mostra outra faceta na ficção de Hugo Rocha, embora mantendo as suas características estilísticas intactas, tanto as agradáveis (um vocabulário rico e um uso bastante bom do registo oral nos diálogos) como as desagradáveis (uma prosa enovelada e superabundante em vírgulas). Não gostei muito, mas gostei.
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