segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Organizando a prosa

Por estranho que pareça, nunca tinha feito isto que fiz hoje: ir vasculhar nos baús e nas gavetas da criação literária e ver quantas coisas tenho completas, quantas estão por completar, quantas publicadas, quantas inéditas, quantas publicáveis e assim por diante.

É coisa útil para se fazer. Para quê, por exemplo, manter-se histórias incompletas a ocupar espaço nas gavetas e na imaginação? Pois descobri que tenho 29. Não vos parecem demasiadas? A mim parecem, mesmo que muitas sejam daquelas histórias com ideias mal definidas, começadas para participar em concursos ou antologias temáticas, e que nunca chegaram verdadeiramente a ganhar corpo. Pouco mais que ideias vagas anotadas no bloco das ideias vagas. Mas digamos que o sejam metade. Ainda ficam umas 15 histórias com pernas para andar. Porque não andam?

Bem, algumas vão andando.

Devagarinho.

Em todo o caso, 29 histórias pouco são quando comparadas com as que tenho completas. Estas são 165. Sim, 165. Eu também me admirei. Mesmo havendo aí, como há, grande número de historietas com menos de mil palavras, dariam para uns 5 ou 6 livros com mais de 200 páginas cada, se bem que nem todas me pareçam publicáveis. Pelo menos sem umas revisões suficientemente grandes para as transformar em coisa decente. E algumas nem assim.

Em todo o caso, mais de 70 dessas histórias foram sendo publicadas de uma forma ou de outra, por aqui e por ali. Literalmente: parte delas só foi publicada aqui mesmo na Lâmpada. Mas 70 histórias publicadas em 165 querem dizer mais de 90 inéditas. Porque é que continuam inéditas? Porque publicar, para mim, nunca foi o objetivo principal; basta considerar que as minhas primeiras histórias razoáveis datam dos anos 80 e, tirando uns velhíssimos jogos florais escolares em que participei (e ganhei, com perdão da imodéstia) e que resultaram numa edição manhosíssima em fotocópias, foi só em 1998 que publiquei o primeiro conto. O objetivo principal, como aliás já disse por aqui, sempre foi libertar-me das histórias que imagino.

E eis outra utilidade disto que fiz hoje: já tenho perdido oportunidades de participar em antologias temáticas por julgar que não tenho nada já escrito que se ajuste ao tema, e nem tempo nem ideias para escrever de novo. Em certos casos é verdade. Mas noutros só julgo que assim é porque me esqueço do que está aqui a ganhar pó na gaveta.

Vale a pena?

Não, não vale. Porque mesmo que publicar não seja o mais importante, não deixa de ser agradável. Até porque há por aí quem goste do que eu escrevo. Não muito, talvez, nem muitas pessoas, mas há. Por que não dar-lhes a oportunidade de lerem mais algum continho? Para quê mantê-los engavetados e, pior, esquecidos?

Outra coisa que obtive disto não poderei dizer que me tenha surpreendido: sou um escritor de coisas curtas, embora cada vez o seja menos. Das tais 165 histórias completas, quase 100 têm menos de mil palavras. Houve uma fase em que produzia historietas assim curtinhas em catadupa, mas, ainda que continuem a surgir-me ideias para pequenuras destas, nos últimos tempos tenho-me cansado da brevidade extrema (até porque raramente me sai bem), tem-me apetecido explanar e expandir mais os meus textos, até interligá-los, juntá-los em séries. Inclusive alguns destes pequenos. Algumas destas historietas acabaram por servir de base para coisas bem maiores, e na verdade há nesta centena e meia de histórias alguns casos de pais e filhos, ou até de pais, filhos e netos. Histórias desenvolvidas a partir de outras histórias invariavelmente mais curtas. Conto-as como histórias diferentes porque o são, mesmo que a ideia base seja a mesma. Não é possível escrever a mesma história numa noveleta e num miniconto.

Esse é, aliás, um motivo comum para a não publicação de algumas destas ficções. Não é tão raro como talvez devesse ser que acabe uma história e me ponha a pensar se não seria melhor expandi-la, juntar-lhe outras coisas, transformá-la de conto curto em noveleta ou de noveleta em romance. Por vezes reescrevê-la de cima a baixo, sob outro ponto de vista, experimentando outra técnica, talvez até mudando-lhe o género.

Sim, nem sempre me consigo libertar delas mesmo quando as escrevo.

Mas é pior quando não as escrevo. De modo que escrevo.

Mas enfim, a moral da história é que já devia ter feito um apanhado como este há bastante tempo. Ah, mas isto tudo é só a prosa. Depois há os versos. Pois. Os versos. Só na spamesia são 366 textos, e há muitos, muitos mais guardados por aqui.

Quer isso dizer que vou fazer algo de semelhante com os versos?

Ná! Nem pensar em tal coisa.

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