O Amaldiçoado de Ish-tar (bibliografia), de um tal Artur de Carvalho (provável pseudónimo), é uma noveleta com inspiração clara: Robert E. Howard, em especial a sua série do Conan. Mais pulp não pode haver, mas a verdade é que este conto é invulgarmente bom, mesmo na qualidade do português, ainda que esta fraqueje para o fim, quiçá produto de pressa ou de falta de tempo para revisões mais cuidades e maiores burilamentos. E também no enredo, algo mais sofisticado do que seria de esperar encontrar-se numa revista pulp de meados do século XX, o que até pode ser visto como uma falha.
Numa cidade livre que podia perfeitamente ter sido arrancada à Era Hiborniana (até há shemitas e tudo), a rainha não tem marido e não parece nada inclinada a vir a tê-lo, o que causa preocupações naturais a súbditos e conselheiros: um reino, mesmo citadino, precisa de herdeiros. O que a rainha tem, segundo se insinua à boca pequena, é uma amante, bárbara e guerreira. Lesbianismo no pulp? Ah pois.
E é aqui que entra o herói, também bárbaro, também guerreiro, encarregado a contragosto de viajar até uma ilha distante para matar um terrível minotauro e com os seus cornos fazer uma poção capaz de levar a rainha a perder o desinteresse que sente pelos homens. Ah, mas a putativa amante sabe do plano e junta-se à expedição. E está a confusão armada.
O resultado, apesar de tão formulaico como seria de esperar numa história da velha espada e feitiçaria, acaba por ser interessante, em boa parte devido a algumas reviravoltas que vão ter lugar lá mais para diante e das quais não vale a pena falar. Basta dizer que pondo tudo nos pratos da balança, quer a qualidade do conto em si como a sua adequação àquilo que com ele se pretende, o pastiche do velho pulp, esta deverá ser, até agora, a melhor de todas as histórias do livro. E só faltam duas para acabar.
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