quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Lido: Amigo Secreto Literário de Natal

Amigo Secreto Literário de Natal é uma antologia organizada por Joshua Falken com a participação dos autores de uma espécie de ateliê brasileiro de FC&F, a Fábrica dos Sonhos. A ideia desta antologia é curiosa. Ela começa por um desafio: cada autor escolhe a imagem que lhe apetecer; o conjunto de imagens assim selecionado é distribuído cegamente pelos autores; estes terão de escrever um conto inspirado pela imagem que lhes calhou. Como facilmente se compreende, trata-se de um exercício destinado a desenvolver a criatividade e a arrancar os autores da sua zona de conforto, e como facilmente também se poderá compreender, é natural que os resultados não sejam nada de especial.

E na verdade não são. O que mais notei nestas história foi ideias mal desenvolvidas, principalmente por uma desadequação por vezes bastante clara entre o desenvolvimento que a ideia exigia e a dimensão do conto que foi produzido. Estes, treze ao todo, todos histórias de género, da fantasia à ficção científica, do fantástico ao horror, são quase todos entre o curto e o muito curto, e várias das ideias teriam exigido histórias mais longas. Há finais abruptos, há histórias que não passam de esboços, há contos que pouco mais são que fragmentos tornados desconexos pela vontade de abreviar. Mas na maioria dos casos a ideia está lá, ainda que também haja dois ou três, os piores, em que a própria ideia me pareceu má, além de mal executada. Ou seja: o exercício acabou por ser frutuoso por se terem nele criado bases que podem ser mais desenvolvidas mais tarde.

E há três histórias que gostaria de destacar por me parecerem as mais completas, aquelas em que ideia e execução melhor se combinam num conto que realmente funciona enquanto tal.

Em primeiro lugar, Jesus, Aprendendo a Pedir, de Leo Carrion, um conto que mistura fantasia urbana com homúnculos, com génios do tipo do de Aladino e até com uns levíssimos sinais de ficção científica numa história divertida e irreverente sobre a ignorância e a má vontade. "Cuidado com o que pedes, porque poderás obtê-lo" poderia ser uma epígrafe adequada. Ainda que não seja isento de defeitos, este pareceu-me o melhor dos treze contos, e aquele que é mais conto.

Corações de Ferro, de Ernesto Nakamura, também me pareceu acima da média. Trata-se de uma história clássica de ficção científica, sobre mecas, ambientada num mundo alternativo em que a Segunda Guerra Mundial decorreu de uma forma muito diferente e não só o Brasil adquiriu uma preponderância muito superior àquela que tem no mundo real, como a própria tecnologia seguiu caminhos bem diferentes. Estranhamente, porque Nakamura abrevia muitíssimo uma história que teria material, no mínimo, para novela, e incorre por isso em alguns dos pecados típicos da FC, o conto até acaba por funcionar enquanto tal. Mas esta história seria bastante melhor do que é se fosse devidamente ampliada.

Por fim, destaco também Idéias de Dragão, de Ubiratan Peleteiro, um conto fantástico que só é prejudicado por um português algo deficiente. Conta a história de uma candidata frustrada a escritora que um dia recebe de presente uma estatueta representando um dragão debruçado em frente de um computador e se descobre inspirada por ela. E algo mais que inspirada. E mais não digo porque o conto depende de alguma surpresa para funcionar. A ideia é muito boa, a execução estrutural também, o tamanho é o correto, só falha mesmo o português.

Em termos de compilação de histórias provenientes de um ateliê literário, de onde só raramente surge algo de qualidade superior, em especial quando a publicação é integral, sem uma seleção, como parece ser o caso, esta antologia não é má. Não é boa, longe disso, mas não é má.

Quem quiser verificar por si próprio pode obtê-la, em PDF, no Calaméo. Foi o que eu fiz.

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