sábado, 3 de agosto de 2013

Lido: Confissão do Vampiro de Londres

Confissão do Vampiro de Londres (bibliografia), de John Haigh, é uma estranha peça literária. Estranha e perturbadora. John George Haigh foi um assassino em série inglês, condenado e executado em 1949 pelo assassínio de seis pessoas, cujos cadáveres dissolvia num banho de ácido, o que deu origem à sua alcunha mais conhecida: Assassino do Banho de Ácido. Ele, no entanto, afirmava ter matado nove pessoas. E este texto é a sua confissão, alegadamente escrita na véspera da execução, mas ao lê-lo não pude deixar de o achar demasiado polido e até literário para acreditar plenamente que se trate da confissão pura e não retocada de um louco.

Sim, que o homem que Haigh descreve ao descrever-se a si próprio é um louco, e não me refiro apenas à psicopatia característica dos assassinos em série. Atormentado por sonhos de cariz religioso que atribui (provavelmente com razão) à educação que recebeu de uma família fanática, e por um desassossego, uma espécie de inquietação, que só se acalma quando, depois de matar as suas vítimas, lhes bebe o sangue ainda quente, a insanidade do narrador desta história de crime e horror é bem patente. Mais: não há, em toda a confissão, o mais pequeno sinal de experiências literárias anteriores, salvo menções a trocas de correspondência com várias pessoas. E no entanto o texto está estruturado como um conto, incluindo até diálogos, com um bom ritmo e um bom uso da linguagem, e mostrando em geral um domínio das técnicas narrativas que não seria de esperar de um homem inexperiente, muito menos de um louco.

É possível que este texto tenha sido escrito por Haigh, assim mesmo. Também é possível que reflita a verdade dos factos. Mas é igualmente possível que a história tenha sido romanceada, talvez pelo próprio Haigh, num exercício de narcisismo que é muito típico dos psicopatas, talvez por outra pessoa. Especulando bastante, parece-me ser esta última alternativa a mais provável; é que, de acordo com uma nota incluída no livro, este texto foi publicado dias depois da execução por três prestigiadas revistas de outros tantos países, e não me custa nada imaginar um jornalista qualquer a reescrever um texto tosco, servindo-se para isso de técnicas literárias que bem sabe serem capazes de despertar e conservar até ao fim a atenção do público.

Seja como e o que for, ficção ou não, é um texto fascinante.

Contos anteriores deste livro:

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