Poeira Lunar, Aroma de Feno e Materialismo Dialéctico (bibliografia), conto curto de ficção científica de Thomas Disch sobre um astronauta que, na superfície da Lua, aguarda a morte é... bem, é tudo o que Passeio Lunar não é. Na verdade, o contraste entre estas duas histórias de temática semelhante é tão gigantesco que a demonstração que Disch faz de como um escritor decente pode tratar uma história destas, e por conseguinte da completa mediocridade de Fyfe, chega a transformar em crueldade que a organização da antologia tenha feito suceder uma história à outra.
Mas a premissa não é inteiramente igual. Sim, ambas as histórias partem de uma avaria durante a exploração da superfície da Lua, mas enquanto numa delas existe uma hipótese — remota — de sobrevivência, na outra a morte é certa. Que numa o protagonista seja americano e na outra russo, no fundo, pouco importa. O que realmente importa é que com uma história de (tentativa de) sobreviência bem feita pode-se levantar muitas das mesmas perdizes que com uma história sem sobrevivência possível. A morte, o seu significado, a sua razão, e por extensão o significado e a razão da vida. Disch fá-lo, e fá-lo de forma brilhante. O seu protagonista é um homem, com reações humanas, um homem em que o desespero se mistura com a resignação e com aquelas perguntas inescapáveis: porquê eu? Porquê a mim? Porquê agora? E o texto é bem escrito, cheio de ritmo, chegando até a mostrar-se poético, com diálogos bons e muito verosímeis. Um grande conto, embora breve.
Esqueçam Fyfe. Esqueçam todos os fyfes, com maior ou menor renome, os medíocres cheios de "ideias" mas incapazes de dar alguma densidade humana às histórias que escrevem. Ficção científica a sério, ficção científica decente é isto.
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