sábado, 10 de agosto de 2013

Lido: Passeio Lunar

Passeio Lunar (bibliografia), longa noveleta de ficção científica de H. B. Fyfe, é um caso quase paradigmático de como uma boa ideia pode ser destruída por um mau escritor. Trata-se de uma história de sobrevivência, ou pelo menos de luta pela sobrevivência. Um astronauta, membro da equipagem de uma base lunar, vê-se de súbito sozinho na superfície do nosso satélite, a centenas de quilómetros da base, dotado apenas de do seu fato espacial e de um grande tanque extra de oxigénio. Isto porque ao aproximar-se da borda de uma cratera o veículo estanque em que seguia se vê apanhado num deslizamento que ele próprio provoca e vai parar ao fundo da cratera, levando consigo todos os companheiros do astronauta, que só se salva por estar no exterior em busca de caminho para o veículo no momento do deslizamento.

Até aqui tudo bem, em especial tendo em conta que a história data de 1952, cerca de década e meia antes do envio das primeiras fotografias da superfície lunar por sondas automáticas soviéticas. Fyfe mostra um entendimento bastante correto da realidade do ambiente lunar, pesem embora algumas ingenuidades naturais para a época, e portanto não é por aí que a história falha. A história falha porque Fyfe é completamente incapaz de transmitir a densidade emocional que uma história de naufrágio exige. Um bom escritor teria feito com esta matéria-prima uma história soberba, carregada de tensão, levando o leitor à cabeça do náufrago. Fyfe, porém, que está quase tão longe de ser um bom escritor como a Terra está do buraco negro no centro da galáxia, consegue a proeza de escrever uma história chata, por vezes até ridícula quando põe o protagonista a falar sistematicamente sozinho, e acha que precisa de uma mulher à espera na base — a única mulher em toda a história, o que torna cristalina a sua função — para conferir à noveleta algum peso emocional.

O resultado é um desastre. É de tal maneira que o título escolhido para a tradução portuguesa, ironicamente, até acaba por se adequar melhor à realidade da história do que o Moonwalk original. Com boa ideia ou sem ela, com um entendimento correto das realidades ambientais da Lua ou sem ele, esta história é péssima.

Textos anteriores deste livro:

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