Só os Mortos Conhecem Brooklyn é um pequeno conto de Thomas Wolfe que relata um encontro e também um desencontro entre duas personagens nas ruas de Brooklyn, uma nativa do bairro, a outra uma espécie de turista que, provido de um mapa e de bastante curiosidade, se propunha conhecê-lo. Para grande ceticismo e, sim, desagrado do outro, que achava impossível fosse a quem fosse conhecer por completo tal intrincado território urbano. O conto é divertido, mas fiquei com a sensação de que se trata mais de uma exploração da oralidade característica de Brooklyn (o conto é narrado na primeira pessoa pelo protagonista de Brooklyn, o qual não parece ser propriamente letrado), que parece quase um dialeto, do que propriamente de um conto humorístico, e com uma rápida pesquisa na web descobri o original e reforcei essa impressão. Há aqui muito de intraduzível. A tradutora, coitada, faz o que pode, mas o resultado dos seus esforços não poderia deixar de ficar muito longe do ideal. Ela conserva bem as profusas marcas de oralidade que o texto contém, mas a ligação a Brooklyn perde-se por completo (como só poderia perder-se) e o resultado soa a um sotaque genérico do sul de Portugal, não particularmente urbano. Talvez fosse melhor se ela tivesse centrado mais o texto em algum tipo de falar castiçamente lisboeta, cheio de arrebiques marialvas, porque parece ser mais ou menos esse o ambiente que Wolfe procura retratar. Não seria ideal — não há num texto como este nenhuma solução ideal — mas talvez fosse o que eu tenteria fazer. Não sei bem. Teria de pensar. Uma coisa é certa: partidas destas não se fazem aos tradutores. Simplesmente não se fazem!
O conto? Sim, é razoavelmente divertido e razoavelmente interessante. Mais que razoavelmente se lido no original, no entanto, o que também constitui um desafio muito próprio para quem não tem no inglês a língua materna.
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