Epílogo, de Mário de Carvalho, é também uma espécie de conto, apesar do título. Trata-se do texto que encerra o seu livro Casos do Beco das Sardinheiras, o qual acabou de entrar para a minha lista de "livros a ver com urgência se não existirão perdidos na biblioteca dos velhotes e, em caso negativo, a comprar com igual urgência." E é uma história metaliterária, na qual as personagens vêm falar com o autor porque ouviram dizer que este vai deixar de contar as histórias do beco e querem convencê-lo a não se ir embora, que ainda há muita história por contar. Mas o autor está irredutível. Que quer tornar-se um autor sério, e para isso tem de se deixar destes fantásticos humorísticos. Que tem de ser.
Uma história que não só é muito divertida como também é uma forma magnífica de desmascarar a parvoíce de boa parte do establishment literário (embora o de hoje seja menos mau que o de há 30 anos, época em que este livro foi publicado), avesso à ironia e à imaginação, provavelmente por não ser capaz de entender nem uma coisa nem a outra, nutrindo um profundo ódio a tudo o que cheire ainda que vagamente a povo, escondendo a sua inadequação para viver no mundo moderno atrás da arrogância e da presunção de se achar melhor que todos os demais porque lê (ou escreve) os livros "certos". Magnífico.
Textos anteriores deste livro:
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