Valente (bibliografia), de um tal Fausto Boamorte que provavelmente será pseudónimo de Guilherme Trindade, é outro conto que nada tem de fantástico, se ignorarmos a bizarria que é termos um morto a narrar esta história na primeira pessoa. E acalmem-se os spoilerófobos mais estridentes porque isto não desvenda nada que não seja logo desvendado na introdução do próprio conto.
Trata-se de uma aventura policial, um pouco em clima de policial negro, com o seu característico detetive duro e amargurado pela vida a servir de herói no seio de uma sociedade corrupta da base ao topo e com a não menos característica mulher fatal a levar à sua perdição. Donzelas em apuros que procuram os improváveis cavaleiros em armadura reluzente que são os detetives privados mortos de fome são o pão nosso de cada dia no policial negro, e esta história faz bastante bem o respetivo pastiche, mantendo o clima sombrio até ao fim. Há até um português surpreendentemente bom, a espaços, cheio de achados de linguagem bem engendrados e com um ritmo muito bem conseguido, embora entrecortado por outros trechos em que as coisas não correm tão bem. Se não fosse conto a imitar ficção barata, dir-se-ia que só lhe faltaria uma revisão atenta a polir algumas arestas para estarmos perante uma história realmente boa (desde que continuássemos a ignorar a tal conversa de ser narrado por um morto, sublinhe-se). Sendo-o, aceita-se plenamente assim mesmo, com falhas e tudo.
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