terça-feira, 13 de agosto de 2013

Lido: Fountain of Age

Fountain of Age, de Nancy Kress, é daquelas histórias que deitam por terra todos os estereótipos machistas sobre as mulheres não serem capazes de escrever ótima ficção científica. Isto, partindo do princípio de que Le Guin não chega para acabar com eles.

Trata-se de uma novela soberba, contada na primeira pessoa por um velho criminoso com uma voz absolutamente impecável, e que tem uma fraqueza: um velho amor impossível, ou talvez uma velha paixão igualmente impossível, que nunca o abandonou apesar de todas as reviravoltas da vida. Mas esse amor, ou essa paixão, não é uma mulher qualquer: é aquela mulher a quem aconteceu uma mutação especialíssima que lhe conferiu a imortalidade por via cancerígena. Ou mais que a imortalidade: a juventude eterna.

Não só a si, aliás. Porque naquele mundo ficcional o capitalismo depressa viu nos tumores da mulher uma oportunidade de lucro e desenvolveu um método para fornecer aos pornograficamente ricos tratamentos de paragem do envelhecimento. Com efeitos secundários pouco agradáveis, é certo, mas para muita gente valem a pena.

Este é o pano de fundo. A história, em si, é sinuosa, sempre a recuar no tempo para ir contando os principais acontecimentos da história de vida do protagonista, enquanto no presente ficcional este decide procurar a sua velha paixão, por motivos que a todos parecem incompreensíveis mas para ele fazem todo o sentido. E é o que faz, com o auxílio de um clã cigano, seu velho associado em empreendimentos de legalidade duvidosa, enquanto as agências policiais americanas, que nunca deixaram de o manter debaixo de olho, ganham todo um novo interesse por ele com este recrudescimento de atividade. A história é ao mesmo tempo a história da busca e de tudo o que levou à busca, e Kress vai dando ao leitor toda a informação relevante ao longo do texto com uma suavidade e uma eficácia de todo em todo invulgares.

E tudo tão bem feito, tão bem interligado, tão bem escrito, que é uma delícia. Esta novela não é perfeita, porque a perfeição não existe, mas anda bem perto dessa inexistência. Magnífico.

Textos anteriores deste livro:

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