sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Lido: Ficções de Guerra

Volta e meia, a Ficções interrompia o fluxo normal de edições para publicar números especiais, temáticos, os quais eram em tudo iguais aos restantes números da revista à parte esse pequeno detalhe; de nos números normais a Ficções era, em essência, um livrinho com 150 a 200 páginas, uma antologia de contos diversificados, nos números especiais, como este Ficções de Guerra, era uma antologia temática com um número de páginas equiparável.

Sendo uma espécie de antologia temática, um dos aspetos relevantes na avaliação é o grau de adequação ao tema de cada um dos contos constituintes. E neste caso, com uma notável exceção (O Uso da Força) que me continua a parecer muito deslocada, todos os contos se ajustam claramente ao tema. Pouco a opor por esse lado, portanto.

No que toca à qualidade, e mais ainda à satisfação do meu gosto pessoal, é um número um bom bocado irregular. Mas há dois contos muito bons, o do Graham Greene e o do Andrei Platónov, e portanto entra aqui a tal conversa do costume sobre valer a pena se houver contos bons e patati e patata. Mesmo com a repugnância que me causou a história do Kipling. A parte portuguesa, que é muitas vezes a que mais me interessa por aquilo que me traz quase sempre de conhecimento de autores que desconhecia ou de reencontro de autores há muito afastados das minhas leituras e que já me tem trazido boas surpresas, é que foi desta feita bastante fraca: um Herculano ridículo e um Garcia arrastado não me deixaram nada satisfeito.

Por fim, o fantástico. Julgo que todos os números da Ficções que li até agora incluem pelo menos um ou dois contos passíveis de inserção em algum dos géneros fantásticos, mas este quase não inclui. E com este quase quero dizer que só com alguma boa vontade interpretativa o conto de Villiers de l'Isle-Adam pode considerar-se fantástico, tendo os restantes um cariz claramente realista. É pena. É que não é preciso escrever-se de forma realista para se falar de guerra, e há uma ampla literatura de guerra nos géneros fantásticos. Mas vamos buscar um exemplo ao cinema para tornar claro para o máximo de pessoas o que eu quero dizer: um dos melhores filmes de guerra que conheço é o Apocalypse Now, do Coppola. E esse filme simplesmente não seria o mesmo, teria um impacto incomensuravelmente menor, sem os fortíssimos elementos de horror que contém. Ora, também há literatura assim, tal como existe literatura fantástica que aborda a guerra por outras vias. Mas ela está ausente desta publicação. E isso contribui para eu achar este número da Ficções bonzinho, sim, pois afinal de contas inclui dois contos bem acima da média, mas longe de ser tão bom como podia ter sido.

Eis o que achei dos contos individualmente considerados:
Esta revista foi comprada.

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