quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Lido: When the Great Days Came

Sempre achei especial piada a contos que parecem ser uma coisa mas no fim, ao fazer-se as contas, se revelam outra bem diferente. Nem a todos, sublinhe-se: às vezes o resultado é demasiado forçado, e esses raramente têm motivos de interesse suficientes para serem resgatados à mediocridade. Mas quando a reviravolta é total e tudo faz pleno sentido... ah!

When the Great Days Came, do recentemente falecido Gardner Dozois que conhecemos muito melhor na qualidade de editor (esteve longos anos à frente da Asimov's) e antologista (com muitas antologias em seu nome, incluindo várias, organizadas em colaboração com George R. R. Martin, que têm visto publicação recente em português) mas também era escritor, parece à primeira vista ser apenas uma história sobre ratazanas. Sobre a sua vida nas zonas esconsas — e não só — de Nova Iorque, sobre o que fazem, por onde andam, como sobrevivem. Tudo escrito com o detalhismo típico da ficção científica hard, é certo, mas sem que nada pareça realmente ser ficção científica: nada na atividade das ratazanas que protagonizam a história é minimamente futurista, e esta podia tão facilmente passar-se no futuro como no presente ou no passado. E faz sentido, afinal: a vida das ratazanas hoje em dia não se diferencia muito da vida das ratazanas de 1600 ou, imagina-se, em 2600.

Nada, isto é, até que um acontecimento que não revelarei porque dele depende todo o desfrute da história força o leitor a uma mudança total de perspetiva. E surge o "Ah, sim! Isto realmente é FC".

Este conto, bastante curto, é daqueles de final surpresa, um conto de ficção científica engenhoso (que dispensava por completo a introdução que os editores da revista resolveram colar-lhe, já agora) e bem construído. Bom. Dozois sabia do seu ofício.

Contos anteriores desta publicação:

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