sábado, 1 de setembro de 2018

Lido: Laços de Família

Tenho vindo a pegar nestes livrinhos publicados pela Expo'98 por me ter apercebido de que embora o tema comum seja o da exposição, os oceanos, vários possuem componente fantástica (o Bibliowiki, nesta época triste mas provisoriamente abandonado, continua ainda a influenciar-me as leituras), mas essas leituras também me têm trazido outra coisa: o primeiro contacto com uma série de escritores que desconhecia e que sem eles, muito provavelmente, nunca leria. Ruy Sant'Elmo é um desses escritores.

De resto, suponho que, no caso de Sant'Elmo, para quase todos os leitores deste livro o contacto será o primeiro. Praticamente esquecido, sem edições recentes além desta, tanto quanto eu saiba, Sant'Elmo publicou ao longo da primeira metade do século XX uma série de livros, virados sobretudo para o Oriente. Laços de Família é um excerto bastante curto (35 das pequenas páginas detas edições da Expo) de um desses livros: China, País da Angústia, um romance.

E é uma história com o seu interesse, tanto em termos de temática como de enredo, estrutura e ritmo narrativo. No início encontramos dois irmãos, pescadores, num barquito de pesca algures ao largo da China, e um tufão surge sem que eles notem a sua aproximação, forçando-os a navegar rumo a terra o mais depressa que lhes é possível. Mas o combate com a tempestade é inevitável e empresta ao texto a tensão que é fácil imaginar. No entanto, ao chegar aí Sant'Elmo interrompe-se para voltar atrás no tempo e contar como os dois irmãos acabaram naquele barco, e apercebemo-nos de que a fraternidade não é natural mas adquirida e os rapazes são na verdade órfãos que em dada altura se encontraram. Depois regressa ao presente narrativo e descreve o desenlace da luta com a tempestade. Coisa dramática. E com várias reviravoltas dignas de um thriller moderno em ponto pequeno. E isso, para mim, foi um problema: as técnicas usadas para tentar manipular o leitor, para o levar a assumir uma determinada resposta emocional, foram demasiado óbvias e despidas de subtileza, tornando-se assim contraproducentes.

No final fica a ideia de que família são mais aqueles que escolhemos como tal do que os que o parentesco de sangue determina. Não conheço a cultura chinesa o suficiente para saber se existe aqui algo de especificamente chinês, mas parece-me que a mensagem é válida independentemente de haver ou não. E mais: é moderna, apesar da relativa antiguidade do texto. Esta não foi, portanto, uma má leitura, ainda que também não me tenha agradado lá muito; teve pontos positivos e negativos. E foi mais um autor que passei a conhecer, pelo menos um pouco, o que é sempre positivo.

Este livro está disponível gratuitamente no site do Instituto Camões, aqui (onde se pode também encontrar a maior imagem da capa disponível na internet, uma coisinha quase invisível de tão minúscula, motivo pelo qual este post vai sem ilustração).

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