Há uns anos, que já se vão alargando, o Gerson Lodi-Ribeiro e o Luís Filipe Silva lançaram as mãos à organização de uma antologia de steampunk que pudesse trazer para o espaço lusófono os temas e perspetivas do steampunk internacional. A iniciativa foi pioneira por vários motivos, entre os quais ser transatlântica na própria organização do livro e não apenas nas obras que dele viriam a constar, coisa em que já existe alguma tradição, e o resultado, a antologia Vaporpunk, teve bastante sucesso.
Tanto sucesso, na verdade, que a editora decidiu alargar o conceito para fora do vapor, agora só sob a organização do Gerson. Apareceram assim mais duas antologias, uma sob a égide da combustão interna, a Dieselpunk, e outra dedicada às energias renováveis, esta Solarpunk (bibliografia). Participei nas duas primeiras com histórias longas ambientadas no mesmo universo ficcional e comecei a escrever uma história também para esta, também parte da mesma série, mas a história quis seguir outros caminhos (está mais próxima de atompunk que de solarpunk) e acabei por não participar. Na verdade, acabei até por nem terminar a história. Parece que ter um objetivo concreto me é bastante útil no que toca a escrever.
(Um parêntesis: sublinhando o sucesso de todo o projeto, a editora, a Draco, veio mais tarde a publicar um outro volume de Vaporpunk, mas agora exclusivamente brasileiro e já sem o Gerson à cabeça.)
Como dito acima, estas são histórias dedicadas às energias renováveis, mas vão mais longe do que isso. São quase todas histórias sobre o futuro, o nosso ou futuros alternativos, nos quais o planeta se libertou das formas de produção de energia limitadas pelos recursos existentes e passou a sobreviver exclusiva ou primordialmente por intermédio de alguma forma de energia renovável. Curiosamente, a história que o João Ventura publicou na Vaporpunk já era um pouco sobre isso. São portanto histórias de ficção científica, de um cariz que à partida se poderia supor otimista, porque a sustentabilidade energética é um dos garantes de um futuro minimamente decente, mas que raramente o é de facto. Nada de mal existe nisso, naturalmente, mas não deixa de ser curioso que assim seja.
Globalmente, a antologia deixou-me um pouco insatisfeito. À parte a primeira história e a última, raras foram as que me tivessem parecido realmente boas, ficando-se a maioria por uma mediania totalmente legível, sim, mas pouco entusiasmante, e havendo mesmo uma que achei fraca. Como é óbvio, entra aqui a conversa do costume sobre a publicação (e a leitura) valer a pena pelos bons contos e novelas que contém: sobretudo o de Gerson Lodi-Ribeiro e o de Carlos Orsi, mas também os de Telmo Marçal e de André S. Silva. E também é verdade que muitas vezes o que mais prejudicou a qualidade final das histórias foram elementos de concretização que não me agradaram, sendo os conceitos, as ideias de base, quase sempre bastante interessantes, o que também é fator a ter em conta. Mas a verdade é que esperava mais. É o problema das expetativas: quando não são inteiramente correspondidas instala-se a desilusão.
Eis o que achei dos contos individualmente considerados:
Este livro foi uma oferta do organizador.
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