sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Lido: Megalon, nº 7

Muitos dos que me leem sabem perfeitamente do que falo quando falo de fanzine, mas na eventualidade de haver quem não saiba, aqui fica uma brevíssima explicação: um fanzine é uma publicação periódica (geralmente; há exceções), feita por fãs de uma determinada área cultural e destinada a outros fãs, de forma amadora ou quase e muitas vezes muito mais por carolice e vontade de contribuir para a movimentação e desenvolvimento dessa área cultural do que com vista ao lucro. Foram durante muitos anos indissociáveis da produção artística em áreas underground, marginais ou marginalizadas e só perderam fulgor (apesar de terem continuado a existir, embora sob outras formas) com o advento da internet, para onde se deslocou a grande maioria das atividades que em anos anteriores só encontravam vazão em fanzines. O que faço aqui na Lâmpada, por exemplo, nos anos 80 do século passado só poderia ser feito num fanzine.

Com a disseminação das fotocopiadoras, nos anos 80, os fanzines tornaram-se mais fáceis de fazer, e apareceram por todo o lado. Houve-os em Portugal, embora nunca tivessem tido muita importância na FC nacional — tirando as pessoas ligadas à FC que também se ligaram aos círculos policiários e portanto participaram em fanzines e revistas policiárias, houve muito poucos fanzines portugueses ligados ao género nos anos 80 e 90 (agora de repente só me lembro de dois, ambos com poucos números) e a circulação dos que houve nunca alcançou mais que um punhado de pessoas — e também os houve no Brasil, onde, aí sim, tiveram uma importância bastante grande na consolidação de um fandom e no aparecimento e treino de novos autores. Um dos mais relevantes foi o Megalon.

Há anos, o editor do Megalon, Marcello Simão Branco, resolveu digitalizar e disponibilizar na internet todos os números do fanzine, que originalmente tinham sido publicados em papel. E eu resolvi descarregá-los e ir lendo um número de vez em quando, mais ou menos ao calhas, prestando especial atenção, naturalmente, aos contos. Este é o primeiro que li, mas não o primeiro que foi publicado. É o Megalon nº 7 (bibliografia), publicado em 1989, uma publicação de 34 páginas com artigos, críticas e uma BD, além da ficção.

Começando por esta última, não é de molde a deixar-me bem impressionado. Um conto bastante fraco e um conto que pouco passa do razoável parecem querer confirmar a velha ideia feita (que hoje em dia se transferiu para a web) de que os fanzines eram o lugar onde a ficção de má qualidade encontra lugar onde se ver publicada. Era ideia falsa à época e continua a sê-lo agora, mas é verdade que o grau de exigência era e é menor, o que não implicava nem implica que tudo fosse fraco.

De resto, isto é confirmado mesmo aqui neste número de fanzine com um artigo interessante sobre a evolução da figura do herói na banda desenhada, entre outros que me interessaram menos, ora por serem menos intemporais e desde o final dos anos 80 já se terem passado quase trinta anos — incluo aqui um artigo de divulgação científica, por exemplo, já muito obsoleto —, ora por outros motivos, mas que também possuem qualidade intrínseca. Também os há mais fracos, naturalmente, mas este número do Megalon é francamente melhor na parte de não-ficção do que na de ficção.

A edição completa-se com uma curta BD (uma piadinha que pouco me agradou) e várias críticas razoavelmente detalhadas, pois há que não esquecer que uma publicação em papel, seja amadora ou não, tem constrangimentos de espaço que na web não existem. Como o que mais me interessa na leitura destes fanzines é a ficção, saio dela um pouco desapontado, mas só um pouco, e é provável que outros leitores encontrem nele motivos de interesse que me passaram mais ao lado.

Eis o que achei de cada um dos dois contos:

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