domingo, 3 de março de 2019

Lido: O Ovo Partido

Mais um conto recolhido por Adolfo Coelho em Ourilhe, este O Ovo Partido tem em comum com o conto que o antecede um certo tom desconexo, ainda que menos acentuado. Mas pouco mais tem em comum com ele. Este é dos contos em que existe um crime e uma profecia de castigo futuro, que quem comete o crime prefere ignorar ou em que não acredita. No caso, um brasileiro rico (esta personagem do brasileiro rico parece ser realmente comum em histórias do século XIX, e se calhar anteriores) é assassinado pelo criado do pai da mulher que cobiça a fim de lhe ficar com o dinheiro, mas este ouve, no lugar do crime, vozes que lhe prometem que pagará por ele. E trinta anos mais tarde, pimba, lá vem a paga.

A moral da história é clara: a paga pode tardar mas não falha, e no fim das contas feitas ninguém engana o destino. É das tais ideias de senso comum que se olharmos com olhos de ver para o que se passa à nossa volta e para a história somos obrigados a constatar que é falsa. Mas estas histórias contadas à lareira tinham em parte do objetivo de contribuir para a paz social, levando as pessoas a não levantar ondas — mesmo quando por vezes o temperavam com irreverência para com os poderosos — e isso é bastante evidente em histórias como esta. Apesar disso, e de tudo o resto, esta é das tais histórias com potencial de desenvolvimento (e de subversão), embora tal como aqui aparece seja bastante fraca.

Contos anteriores deste livro:

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