Tem desculpa quem passar os olhos por este título e imaginar de imediato um conto saído diretamente das Mil e Uma Noites, cheio de exotismo islâmico e djinns. Mas engana-se redondamente. O Velho Sultão é sobre um cão. O cão Sultão.
Trata-se de uma fábula sobre favores e gratidão ou falta dela. O Sultão é tão velho que o dono quer abatê-lo até que um lobo concebe um plano para lhe salvar a vida, mostrando-o útil ao dono. Resulta, mas o lobo contava que o favor lhe fosse retribuído, e não é, o que leva o lobo a vingar-se. E aqui tenho de fazer um pequeno intervalo para dizer que os Irmãos Grimm meteram a pata na poça.
Como já devem saber, era seu costume criarem contos novos a partir de dois ou mais contos tradicionais, que na sua opinião se completavam. E foi o que fizeram aqui: a primeira parte deste conto provém de uma história, a segunda de outra. O que acontece é que se por vezes pouco se dá pela marosca, aqui dá-se e dá-se bem.
É que na primeira parte temos uma história sobre a ingratidão. O lobo ajuda o cão e, quando vai em busca da reciprocidade, o cão nega-lha, preferindo manter-se fiel ao dono que o queria matar. E isso dá uma história boa, com um dilema moral inteligente, que os Grimm destroem acrescentando-lhe a segunda parte, que consiste basicamente de uma daquelas histórias inspiradoras em que os bons vencem os maus mesmo quando parecem estar em grande inferioridade. E quem são os maus? O lobo, claro, que esta segunda história é muito menos sofisticada que a primeira. O resultado desta costura pouco inspirada é um conto inconsistente.
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