segunda-feira, 18 de março de 2019

Lido: Os Seis Cisnes

Por vezes, nestas coleções de histórias tradicionais mais ou menos adaptadas por quem as faz, surgem fortes ressonâncias com outras obras, literárias ou não. Normalmente são versões dessas mesmas histórias, em literatura ou no cinema, na BD ou na TV, que reconheço de ter com elas contactado há muitos anos, geralmente em miúdo. Mas nem sempre é o caso. Esta história que os Irmãos Grimm aqui apresentam, por exemplo, ressoa-me a Juliet Marillier.

A fantasia tem ao longo das décadas ido buscar muito material às histórias tradicionais, o que de resto explica boa parte do seu apelo, pois o folclore tende a depurar enredos e personagens até só ficar aquilo que mais ressoa na psique popular e são precisamente esses elementos que tanto contribuem para a popularidade do género. E Juliet Marillier utilizou esta história (ou melhor, não necessariamente Os Seis Cisnes tal como os Grimm os apresentam, mas alguma das múltiplas versões existentes da história) como inspiração para uma passagem particularmente importante do seu Filha da Floresta. E foi aí que eu a encontrei pela primeira vez.

É uma história com muitos elementos encontrados em outros contos mas também com algo de seu. Reencontramos aqui a madrasta má, neste caso filha de uma bruxa (e bruxa ela também, claro) que obriga o rei a casar com ela. Este já tinha seis filhos e, com receio do que lhes pudesse acontecer, esconde-os da nova mulher (que entretanto lhe dá uma filha), o que resulta durante algum tempo, mas só durante algum tempo. Quando a madrasta descobre os rapazes transforma-os em cisnes, deixando embora, como acontece tão frequentemente neste tipo de história, uma forma de anular o feitiço. E é o que a filha faz, pois esta, ao contrário da mãe, é boa e quer bem aos irmãos mesmo sem os conhecer.

Não é difícil compreender por que motivo Marillier escolheu esta história como inspiração. É uma história bonita, com protagonismo feminino forte de ambos os lados do conflito, invulgar nas histórias tradicionais por colocar não as donzelas indefesas à mercê dos caprichos dos homens mas, pelo contrário, os seis irmãos (já para não falar do próprio rei) à mercê dos caprichos e vontades das mulheres. Basicamente uma história feminista surgida antes de sequer se pensar em criar tal palavra.

Bastaria isso para a tornar particularmente interessante, mas esta é, além de tudo o resto, uma história realmente boa.

Contos anteriores deste livro:

2 comentários:

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