De Timor, Luís Cardoso escreve uma história com elementos de realismo mágico sobre uma Cadeira de Sândalo. Uma história sobre a História de Timor-Leste, uma história sobre lealdades cruzadas, colonialismo e rebelião. É sabido que, desde o início, o colonialismo português recorreu ao auxílio de aliados locais, povos, regiões e classes descontentes com os seus senhores que viram nos portugueses um aliado poderoso, capaz de os ajudar a inverter em seu favor as relações de poder, mesmo que no fim dessem por si tão subjugados como antes. O protagonista desta história é um desses aliados, numa época indeterminada do século XX, um timorense coronel do exército português que é encarregado pelo governador de ir combater uma rebelião e volta vitorioso mas frustrado.
Porque em vez de trazer da vitória a rainha rebelde, como era seu desejo e tradição do seu povo, recebera do governador a ordem para a deixar em paz. E por isso só trouxera a cadeira de sândalo do título, uma espécie de trono, símbolo do poder da mulher. Mas esta parece ter enfeitiçado a cadeira fazendo com que quem nela se sentasse mergulhasse numa espécie qualquer de estado catatónico e não conseguisse levantar-se. Até que a filha do protagonista, que também é a narradora da história, resolve o assunto de uma forma drástica e inesperada.
É bastante bom, este conto. Não só a história em si é interessante como a forma como está escrita, numa prosa sinuosa e cheia de qualidades, é francamente boa. Chegando ao fim, apetece ler mais, apesar de este não ser daqueles contos frustrantes que deixam o final em aberto. Demasiadamente em aberto, melhor dizendo. Não; o final desta história é um final inteiramente conclusivo para a história. Apetece ler mais porque apetece conhecer mais sobre aquele ambiente e personagens e porque a prosa é agradável. Ou seja: não é defeito, é qualidade.
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