Uma característica curiosa da escrita de Mia Couto é o protagonismo feminino que ele tantas vezes introduz nas suas histórias. É frequente serem histórias não só com mulheres, mas de mulheres, e mesmo quando são histórias de casal, como este A Dona da Ausência, é frequentemente a mulher quem tem o papel mais destacado. Ou pelo menos mais sensato.
Aqui, estamos perante um casal reencontrado após anos de ausência. O marido andava na guerra, provavelmente a civil que opôs a RENAMO à FRELIMO, e a mulher foi deixada para trás, tentando sobreviver como pudesse. Começa a história quando ele chega, decidido a voltar a tomar posse da casa e da família, mas o que encontra é uma mulher senhora de si própria e das suas vontades.
A cadeira, aqui, e mais uma vez, é principalmente simbólica. Simboliza o poder doméstico do homem, uma espécie de pequeno trono, e é principalmente o facto de não a ter encontrado ao regressar a casa que despoleta a ira (e a insegurança) do ex-combatente. Mas a mulher explica-lhe que tinha sido forçada a vendê-la para conseguir sobreviver. E depois mostra-lhe quem manda, com autoridade e doçura.
Quanto à escrita, é mais simples do que muitas vezes se encontra em Mia Couto, sem aquelas inovações entrocadilhadas que ele gosta (gostava?) de fazer. Não deixa de ser poética, mas a poesia está mais na situação, no enredo propriamente dito, do que na escrita. Mas é um conto de Mia Couto. Talvez não seja dos seus melhores, mas é bom.
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