Bom, ao segundo exemplo da escrita de José Viale Moutinho já posso pelo menos dizer que a curiosidade está despertada. É que neste A Porta do Cavalo ele mantém as características que mais me tinham agradado n'O Tricô de Constança, ao passo que as que me desagradaram estão desaparecidas em parte incerta, ou pelo menos significativamente atenuadas.
Há algumas coisas em comum entre as duas histórias, a começar pelo ambiente. Em ambas, os protagonistas são membros da burguesia oposicionista ao Estado Novo, com uma atividade política que ora é aberta, no caso do conto anterior, ora razoavelmente clandestina, no caso deste. E digo "razoavelmente" porque ao contrário do primeiro conto este passa-se no interior beirão, terra pequena, onde toda a gente sabe que o protagonista mais velho não é partidário do regime. E há em ambos os contos uma atmosfera geral de coisa antiga, de decadência, mesmo sendo os protagonistas progressistas. De dinheiro velho e algo desfalcado, talvez.
Mas outras coisas são bastante diferentes. Este A Porta do Cavalo é a história da cumplicidade entre um velho e um rapaz, e da forma como os dois se entreajudam. O rapaz lê ao velho as notícias, e não só, pois este é cego ou quase. Em contrapartida, quando chega o momento, o velho ajuda o jovem a fugir a salto para França, a fim de evitar a guerra colonial. Houve milhares de histórias assim nos anos 60 e 70 do século passado, até que o 25 de Abril acabou com a guerra e o colonialismo, e Moutinho conta-a bem.
Vamos lá agora a ver o que nos traz o próximo conto.
Conto anterior deste livro:
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