sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Lídia Jorge: Cálice de Porto

Enquanto leitor, parece-me sempre que é um pouco de batota quando os autores presentes em antologias temáticas, quer sejam convidados a participar, quer apresentem de moto próprio trabalhos para inclusão, resolvem escrever histórias cuja ligação com o tema é ténue ou inexistente. Mesmo que na condição de autor até ache graça ao desafio de subverter o tema por forma a não ultrapassar a delicada fronteira entre o que é iconoclasta mas aceitável para o tema e o que cai decididamente fora dele.

E neste Cálice de Porto, Lídia Jorge faz isso mesmo, pois a sua história sobre os cinismos e hipocrisias do meio cultural só por acaso se passa no Porto, podendo ambientar-se em qualquer outro lugar.

A protagonista é alguém que é convidada para uma festa da burguesia intelectual bem instalada e vai, sem conhecer ninguém. Lá, um "poeta recentemente laureado" põe-na sob a sua proteção evitando que se sinta demasiado deslocada, e trata imediatamente de desatar a má língua, denunciando os podres deste e daquele, mas dedicando particular atenção ao anfitrião, o que leva a protagonista a tirar as suas conclusões.

E eu encolho os ombros. Muito bem, percebo as ironias várias que espreitam desta história mas o interesse que ela me desperta é praticamente nulo. Não há, nestes enredos de telenovela movidos a diz-que-disse, nada que realmente me chame a atenção e a parte literária da coisa, que é tão boa como seria de esperar, não basta para compensar.

Termino a leitura com um "meh" a dançar-me nos lábios. Meh.

Contos anteriores deste livro:

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