Toda a gente sabe que há autores que ficam conhecidos por um determinado tipo de história, ou de abordagem à arte de contar histórias. Mas o que nem toda a gente sabe é que por vezes as histórias que corporizam esse tipo ou essa abordagem de forma mais perfeita nem são as mais lidas ou famosas.
Olhem o Philip K. Dick, por exemplo. Ficou conhecido pelas suas ficções convolutas, cheias de reviravoltas, que traduzem uma visão paranoica do mundo e muito duvidosa da consistência da realidade ou da identidade. E de facto, as suas obras mais conhecidas traduzem em grande medida essa visão. Mas este conto, O Impostor (bibliografia), apesar de não ser dos seus contos mais conhecidos, é capaz de ser o conto mais dickiano de todos os contos de Dick que eu conheço. E se não for mesmo o mais dickiano, está com toda a certeza no topo.
A humanidade está em guerra com uns alienígenas de Alfa do Centauro. O protagonista é Olham, um homem envolvido no esforço de guerra, que um belo dia é surpreendido em casa por uma visita inesperada. Alguém vem prendê-lo, acusando-o de ser alguém que ele sabe perfeitamente que não é. Alguém, ou por outra, algo: um robô criado pelos centaurianos e enviado para a Terra com uma bomba rebenta-planetas nas entranhas. E o bom do Olham vai ter de arranjar alguma maneira de provar que os que o rodeiam estão enganados, e ele é simplesmente quem sabe ser, não um robô assassino qualquer.
O enredo é conhecido. Não só o lemos várias vezes nas ficções de Dick como o encontrámos nas numerosas adaptações cinematográficas que as histórias dele sofreram. Mas aqui está como que destilado até à sua expressão mais pura. E está cá tudo aquilo que faz de Dick Dick.
Este conto não será tão bom como alguns dos outros contos do seu autor, talvez. Mas é Dick em estado puro. E é bom.
Conto anterior deste livro:
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