Lido este conto de Maria Velho da Costa fiquei sem perceber o título, imagino que, eventualmente, por Serralves ter uma história que eu desconheço, embora isto não passe de hipótese vaga sem grande coisa que a sustente. Certo é que este A Ponte de Serralves não parece à primeira leitura de alguém (eu) com carência de referências ter grande coisa a ver com pontes ou com a Fundação de Serralves. Embora possa ter a ver com a propriedade que esteve na génese da fundação.
Também certo é que se trata de um conto sinuoso, muitíssimo bem escrito, sobre as relações que se estabelecem numa casa aristocrática sujeita às vontades muito mais filosóficas do que despóticas de um Amo, que a autora referencia simplesmente assim. Curioso é que as únicas pessoas que nesta história têm nomes são as mulheres; os homens são o Amo e o Jardineiro Prodigioso, duas personagens que, apesar das suas diferenças sociais, se entregam à cumplicidade da conversa filosófica com razoável profundidade. Em contraste, as mulheres são nomeadas: Deodata é a mordoma, uma empregada doméstica expedita e um tanto ou quanto iconoclasta, e a protagonista principal, Miss Laura, uma jovem aparentemente inglesa que está hospedada na casa não se chega a saber bem porquê.
Esta jovem é tratada pelos outros como louca, num misto de exasperação e de pena, e sente um fascínio pelo Jardineiro que se aproxima da paixoneta, e que este retribui com gentileza. Para isso contribuem coisas que diz e faz, nem sabe bem porquê, embora não pareça haver quaisquer consequências. O que não surpreende: este conto é um retrato, não uma verdadeira história. É estático. Representa uma situação que não se altera.
A propriedade, e sobretudo a casa, aparecem em parágrafos intercalados na história principal, descritas como lugares com vontades e aspirações próprias, num registo poético que se aproxima da literatura fantástica embora, a meu ver, sem chegar a transpor a fronteira. Tudo muito bem escrito, mas...
... mas mais uma vez, tudo muito desinteressante para o leitor que sou. Tem sido um pouco uma constante nos contos deste livro. A qualidade literária é elevada, mas os temas escolhidos pelos autores e as abordagens às histórias que contam pouco interesse me despertam, pelo que acabo por não gostar tanto da leitura como a pura vertente literária mereceria. Dito isto, gostei bastante mais deste conto do que de alguns dos outros. É uma vantagem que ele tem.
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