quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Carla Ribeiro: A Balada do Executor

Se me pedissem para definir este conto de Carla Ribeiro numa frase, o resultado seria qualquer coisa como "um conto gótico sobre crime e castigo com uma femme fatale como vilã principal".

O protagonista de A Balada do Executor (bibliografia) é um carrasco caído em desgraça. Numa sociedade teocrática não identificada (provavelmente em mundo secundário, i.e., sem tentar ir buscar algo de semelhante ao mundo real), a autora apresenta um homem amargurado depois de tomar consciência de que todos os crimes que cometera em nome de uma deusa igualmente não identificada tinham sido fruto de uma paixão não correspondida pela inquisidora que alegadamente representaria essa deusa junto dos mortais. Na realidade, segundo acaba (e nós com ele) por perceber, fora apenas um instrumento da ambição de poder de uma mulher cruel, utilizado enquanto útil e descartado assim que a utilidade termina.

O estilo é o da literatura gótica, muito devedora das técnicas narrativas dos autores do romantismo. Não me agradam por aí além, como quem costuma ler o que eu vou aqui escrevendo já deve saber, mas Carla Ribeiro consegue evitar resvalar para aquilo que o melodramatismo inerente a tipo de ficções tem de pior, o que é um ponto a seu favor. Por exemplo, o texto é adjetivado, sim, mas não em excesso.

E outro ponto a seu favor é ter tratado o conflito que faz mover o conto com base em relações de poder e não na maldade ou bondade intrínsecas às personagens, o que confere ao todo um grau de realismo que este tipo de fantasias sombrias nem sempre consegue (ou sequer tenta) ter.

Em suma, este é um conto interessante. As suas características mais próximas do romantismo impedem que eu tenha realmente gostado dele, mas tem várias qualidades que é bem menos comum encontrar do que seria desejável, o que por seu turno me impede de não gostar dele. É leitura que vale a pena.

Conto anterior desta publicação:

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