Nunca tinha lido nada do João Tordo e não fiquei propriamente bem impressionado com este Cidade Líquida, um conto de 11 páginas sobre as relações meio fantasmagóricas entre um professor de filosofia e um cineasta que admira e a certa altura acaba por conhecer.
Aquilo que mais me distanciou deste conto foi, contrariamente ao que é hábito em mim, o próprio estilo narrativo, embora o enredo também não tenha ajudado. Tordo escreve sobretudo em frases curtas, sincopadas de uma forma que rapidamente se torna cansativa. Há alguns achados, é certo, pormenores de linguagem de enorme qualidade que provavelmente explicam o motivo por que o autor é tão celebrado, mas o todo aborreceu-me bastante, mesmo sendo o conto razoavelmente curto. Não imagino conseguir chegar ao fim de um romance escrito desta forma (e um dia hei de tentar, para ver se chego ou não).
A história em si é fragmentada, tanto em momentos quanto naquilo que parece ser a perceção subjetiva da realidade. Há algumas sugestões mais ou menos claras de homossexualidade, que parece nunca ser mais que latente, há aquele ambiente de boémia e de crise existencial que é bem capaz de ser o maior cliché de todos em histórias que girem à volta de personagens intelectuais e há, no final, uma irrupção razoavelmente subtil e não menos razoavelmente todoroviana do fantástico na história por intermédio de uma personagem que o protagonista vê mas não pode ver porque está morta há anos.
Tudo somado, esta é uma história bem escrita, mesmo que o estilo não me agrade, mas bastante vazia. Uma daquelas histórias que se chega ao fim e a pergunta que fica é "e daí?" Logo seguida por "que ganhei eu por ter lido isto?" E a resposta é "pouca coisa", e isso não é bom. Nada bom, mesmo.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.