Quem conheça um pouco da cultura popular americana decerto conhecerá episódios em que um pobre carteiro, ao tentar simplesmente fazer o seu trabalho de entregar pacotes postais aos destinatários, algures nalgum subúrbio feito de casinhas de madeira rodeadas por relvados e provavelmente também com alpendres a decorar as fachadas, se vê perseguido e não raras vezes mordido por um ou mais cães, furibundos pela intrusão no território que consideram seu.
É esse o imaginário que Stepan Chapman (perdão: o Dr. Stepan Chapman) vai buscar para conceber este Síndrome Fasciolar Cerebral dos Carteiros (bibliografia). Não em estado puro, que assim estaríamos apenas perante um cliché. Mistura-o com um conjunto bem real de parasitoses que levam a alterações, por vezes profundas, no comportamento dos animais afetados que os tornam mais vulneráveis à predação e por conseguinte à passagem do parasita à fase seguinte da sua vida, dentro de um novo tipo de hospedeiro. Na vida real, esse tipo de parasita infeta várias espécies em sequência. Aqui também: a cadeia de hospedeiros do parasita ficcional é composta por baratas, pombos, cães e carteiros.
O resultado é engraçado, mas fica algo longe da qualidade e subtileza da história de Neil Gaiman que antecede esta e tem em comum com ela toda a estrutura básica (a qual é a proposta do livro em que ambas foram publicadas, de resto) de caso clínico insólito. Interessante, sim, mas nada de superlativo.
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