sábado, 25 de maio de 2019

Lido: Bang!, nº 3 (#leiturtugas)

Publicada no já distante ano de 2008, numa altura em que a revista deixou de ser publicada em papel para passar a sair apenas em PDF, era gerida por Rogério Ribeiro e Luís Corte Real e tinha como principal objetivo a divulgação das iniciativas editoriais da Saída de Emergência e dos seus autores, este número 3 da Bang! (bibliografia) foi para mim um paradoxo: embora os textos sejam de uma forma geral bons, o resultado global da leitura foi bastante insatisfatório.

É que bem mais de metade do que vem nesta publicação foi para mim releitura. Releitura de coisas em geral boas, é certo, mas não deixa de faltar frescura a quase todas, não só por já as ter lido mas também porque as mais longas são bastante antigas.

Excetuam-se das releituras apenas Filho do Sangue, um conto bom, O Mundo Apagado, um conto que não me agradou muito, apesar de também o achar bom, e quatro histórias bastante curtas, duas das quais pseudoficcionais. É entre estas últimas que se encontra o destaque desta publicação, pois Crupe dos Doenceiros é realmente um texto magnífico.

De resto, a revista completa-se com uns quantos artigos e um par de entrevistas. A entrevista a George R. R. Martin tem interesse mas por esta altura já não traz nada de novo. E entre os artigos, há dois que são mais interessantes que os demais. David Soares discorre sobre o fantástico em português e o artigo é uma curiosa mistura de afirmações e opiniões muito acertadas com outras altamente discutíveis (exemplo: uma das ideias fortes do texto é que o salazarismo e a sua sociedade de sacristia contribuíram para sufocar uma tradição de fantástico em Portugal, e eu tendo a concordar, mas quando sugere que isso foi feito em parte através da supressão dos leitores teria de explicar como compagina tal ideia com a subsistência de várias coleções de ficção científica e terror ao longo dos anos 60 e 70, coisa que não faz). O artigo de João Seixas é semelhante, no sentido de misturar acertos com coisas altamente discutíveis, mas o tema é outro: a natureza da ficção científica e aquilo que separa a FC de outros géneros. É outro artigo interessante para quem se interessa pelo tema mas esta discussão, confesso, interessa-me cada vez menos por ter vindo ao longo dos anos a chegar à conclusão que é fundamentalmente estéril.

De modo que este é dos tais casos de diferença significativa entre a qualidade que reconheço à publicação e o gosto com que a li. Aquela é bastante superior a este. O que significa que este número da revista tem tudo para agradar bastante mais a outros leitores do que me agradou a mim.

Eis o que achei de cada uma das histórias:
Esta revista pode ser descarregada gratuitamente em formato PDF do site da Saída de Emergência.

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