domingo, 5 de julho de 2020

M. M. O'Driscoll: Síndroma da Falácia Empática

Um problema comum em antologias temáticas com grande quantidade de contos é a quase inevitabilidade de aparecerem histórias muito semelhantes umas às outras, o que pode deixar os leitores mais apreciadores de variedade algo insatisfeitos. Esse problema agrava-se quando as semelhanças não são apenas temáticas, mas também estilísticas, nomeadamente porque a própria estrutura da antologia assim as obriga. É um pouco o que acontece com este conto/doença de M. M. O'Driscoll. O Síndroma da Falácia Empática (bibliografia) tem muitas semelhanças com o Síndroma Amordnís.

Pois também aqui estamos perante uma doença que consiste parcialmente de uma forma de mimetismo. Mas o mimetismo de O'Driscoll é psicológico; a doença que inventou é mais ou menos como uma forma extrema de hipocondria que leva os pacientes a assumir as características psicológicas da pessoa ou objeto inanimado (sim, também) que espelham, sentindo o que elas sentem. Pode ser apenas um incómodo. Mas também pode ser fatal, caindo os pacientes em estado vegetativo caso o seu alvo seja, por exemplo, um aparelho de cozinha.

Este é um conto mais divertido do que propriamente interessante, em parte porque pende mais para o lado pseudofactual destas histórias. Gostei mais do de Andrew J. Wilson precisamente por isso: é mais história. Além de ser mais imaginativo, ainda que não muito mais. Dito isto, o de O'Driscoll está longe de ser um mau conto ou falho de imaginação. É mediano, no contexto desta antologia, e provavelmente teria mais impacto se não se assemelhasse tanto ao de Wilson.

Textos anteriores deste livro:

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