segunda-feira, 13 de julho de 2020

Mia Couto: O Gato Nacional

Apesar do título, não é sobre um gato, esta história de Mia Couto, mas é sobre a nação moçambicana, ou o estado em que ela se encontrava quando foi escrita. O Gato Nacional aparece mas é uma aparição alegórica, pois o verdadeiro tema da história é o poder. Que é como quem diz, o dinheiro. Que é como quem diz, a prostituição.

O protagonista da história (o próprio Mia Couto, provavelmente), é abordado durante a noite por uma mulher que lhe pede lume. Mas não é para acender um cigarro; é para lhe iluminar a subida ao apartamento, mal disfarçada solicitação para uma sessão de sexo. Só que afinal, quando chega a lugar iluminado, a mulher reconhece-o e confessa que julgara que ele era cooperante, o que não faz grande sentido a menos que se conheça o estatuto dos cooperantes nos países africanos: homens (eram quase sempre homens) vindos dos países desenvolvidos com o objetivo declarado de ajudarem os países pobres a prepararem quadros e infraestruturas que permitissem o seu desenvolvimento futuro. Homens pagos em dólares, salários que também por isso eram astronómicos quando comparados com o que ganhavam as pessoas da terra (na verdade, eram bastante elevados mesmo para os padrões portugueses). Homens que por isso tinham um poder considerável, ao mesmo tempo que se transformavam em alvo apetecível para certas atividades.

Este é um conto muito político, mas, como é costume em Mia Couto, também bastante oblíquo, que ele tem um jeito muito próprio de falar de umas coisas parecendo estar a contar outras. E sim, também muito bem escrito, mas isso já se espera, já mal vale a pena mencionar.

Contos anteriores deste livro:

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