Algumas histórias deste livro têm uma certa queda para a diatribe, o que em geral não é grande ideia, mas o mais interessante nas que aqui se encontram é trazerem suficientes elementos exteriores à diatribe para que apesar disso os textos se tornem interessantes. Por vezes são diatribes com piada; de outras vezes, como no caso desta história de Steve Redwood, são diatribes que vêm embrulhadas em ideias altamente imaginativas.
Com um título como Síndroma de Pinóquio Inverso (bibliografia) é fácil perceber-se que o fulcro da coisa é a mentira e os mentirosos. Rapidamente se percebe que Redwood se atira a classes inteiras de mentirosos, mas a doença que arranja para os afetar é curiosíssima. As mentiras, na imaginação de Redwood, têm existência física, como uma espécie de muco, dotado naturalmente de massa e densidade. Ora, quando a doença ataca, o nariz em vez de crescer, como no caso do Pinóquio de Collodi, mingua e desaparece. Daí o "inverso". Mas porquê?
Porque as mentiras não aumentam a quantidade de muco, mas a sua densidade. Aumentam a quantidade de matéria mas não o seu volume. Não as mentiras que são ditas, entenda-se, mas aquelas que ficam retidas, que são apenas concebidas mas não podem partir mundo fora. Ora, o que é que acontece quando a densidade da matéria aumenta exponencialmente? Exato: chega a certo ponto e forma-se um buraco negro. E é precisamente o buraco negro criado pelas mentiras não proferidas pelos mentirosos profissionais que gera a doença, devorando primeiro o nariz e depois outras partes da anatomia dos desgraçados. E é isso, juntamente com uma ou duas historietas engraçadas que acompanham a descrição da doença, que faz com que esta diatribe de Redwood se leia com muito mais gosto que uma diatribe comum.
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