É precisamente em contos como este que se pensa quando se pensa em contos de fadas, mas o mais curioso é que não temos aqui um fruto de recolhas próprias dos Irmãos Grimm ou de algo declaradamente vindo da tradição popular, tendo este conto sido, segundo a nota que acompanha o texto, encontrado na autobiografia de Heinrich Stilling (i.e., Johann Heinrich Jung), embora a mesma nota dê conta de um texto popular bastante semelhante. Não faço ideia se e até que ponto os Grimm poderão tê-lo alterado, e o mesmo pode dizer-se de Stilling, havendo até a possibilidade de se tratar de uma história original deste autor, inspirada pelo conto popular.
E é, claro, uma história cheia de magia e metamorfoses, na qual uma bruxa má enfeitiça a região que rodeia a sua casa por forma a que todos os homens que lá entram fiquem paralisados e as mulheres sejam transformadas em pássaros, que a bruxa se apressa a engaiolar. Naturalmente, Jorinda e Jorindel vão acabar por cair nas malhas da bruxa e, passadas algumas peripécias, um deles acaba por arranjar forma de salvar o outro, ou não fosse necessário que quando a história acaba o final seja feliz.
Sem nada que a torne memorável, muito semelhante a muitas outras histórias do género, motivos pelos quais, suponho eu, raramente apareça por aí adaptada naqueles livrinhos pequeninos de capa dura e profusamente ilustrados, esta é, mesmo assim, uma boa história infantil. De facto, ao passo que um bom quinhão destas histórias recolhidas/retocadas pelos Irmãos Grimm mostram uma crueldade que as adaptações para crianças de tempos mais recentes se esforçam por fazer desaparecer, aqui a crueldade, que ainda existe, já está bastante atenuada, o que não deixa de ser curioso. Será resultado da mão de Stilling? Talvez, pois os Grimm tendem a deixá-la intacta. Ou talvez seja já assim na forma popular. Em qualquer caso é uma história com interesse.
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