terça-feira, 7 de julho de 2020

José Conrado Dias: Irish Bar «La Gomera»

Em dezembro do ano passado falei aqui do primeiro livro de José Conrado Dias, e muito do que teria a dizer aqui sobre a parte editorial deste segundo livro está dito nesse texto. Com efeito, e apesar da óbvia evolução, continua a sentir-se demasiado neste Irish Bar «La Gomera» a falta de profissionalismo na edição, com a ausência de uma revisão que colocasse certos sinais de pontuação no sítio certo, os travessões esquecidos em demasiados diálogos no lugar, as palavras que faltam em algumas frases, por aí fora.

E também muito do que aí digo sobre o primeiro livro também poderia dizer sobre este, ainda que, de novo, se notem aqui melhorias evidentes. Isto é, as qualidades e defeitos são os mesmos, mas aquelas estão aqui mais presentes e estes estão aqui mais atenuados. Mas a estrutura geral é quase igual: o protagonista é um homem já entradote que deambula entre as ilhas atlânticas e o Algarve numa busca por qualquer coisa que não parece saber bem o que é, e acaba sempre por encontrar mulheres dispostas a partilhar a sua cama, talvez mais do que envolvimentos afetivos propriamente ditos. Talvez em parte porque ambos os livros são parcialmente autobiográficos, indo o autor buscar inspiração a experiências muito semelhantes, se não forem até as mesmas.

Depois há as diferenças. Se no primeiro livro o protagonista dá um saltinho a Cabo Verde, neste a viagem é às Canárias e à Madeira. Aqui, as motivações também estão um pouco mais interessantes, pois a viagem às Canárias advém da história familiar do protagonista, filho de um irlandês e de uma canária da ilha de La Gomera que se vieram estabelecer na região de Portimão, fugidos do franquismo, e acabaram donos de um bar, adequadamente chamado Irish Bar «La Gomera». E a viagem à Madeira justifica-se por ter uma filha a viver na ilha com o marido.

E também a escrita está um pouco melhor, embora continue bastante irregular, alternando a banalidade e demasiadas falhas e desatenções com trechos em que vai assomando alguma qualidade literária. Felizmente, desapareceram as desastradas tentativas de fazer estilo do princípio do primeiro livro, surgindo agora, aqui e ali, um estilo diferente, bastante mais bem conseguido, em boa parte por ser visível que surge naturalmente, não é forçado.

Por outro lado, mantém-se aquela abordagem miudinha do professor que não resiste a dar aulas. Há trechos cheios de factos desnecessários ao desenrolar da narrativa, há uma preocupação aparentemente obsessiva com a precisão de endereços e localizações, há nomes completos, ou pelo menos conjuntos de nome e apelido, onde um nome simples teria bastado, por aí fora. Ou seja: não só por isso mas também por isso, as melhorias não são suficientes para transformar esta novela num bom livro. Continua a ser uma obra fraca, mal editada (embora aqui a responsabilidade seja principalmente de outrem), que apesar de mostrar que o autor até pode vir a chegar algum dia a algum lugar com interesse, mostra sobretudo que ainda não chegou.

Estará em viagem, suponho. Ajuizando pelos dois livros dele que li, é onde gosta de estar.

Este livro foi comprado.

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