A fantasia e o terror estão cheios de histórias em que parte ou a totalidade do enredo se baseia em sonhos premonitórios, e este conto de Ivan Turgueniev é uma dessas histórias. Mas o título, Um Sonho (bibliografia), diz pouco mais do que isso. Ou melhor: nem isso chega bem a dizer.
A verdade é que sob um título tão vago se esconde um conto bastante sofisticado, cheio de conteúdo e que, apesar de não esconder uma certa pegada do romantismo, está tão bem construído que ela mal se nota. Nele encontramos o jovem narrador amargurado e arrebatado de tantas histórias românticas, mas o que o faz mover não é um amor instantâneo como tantas vezes acontece, e sim um mistério sobre as suas origens, por um lado, e algo que não compreende e está a afetar a sua mãe. É que ele sonha que procura o pai e quando o encontra ele não é o pai que conhece e que perdera aos sete anos, mas outro homem, um desconhecido.
Com o decorrer da história acabamos por ficar a saber que o jovem é fruto de uma relação sexual forçada e que por isso provoca na mãe uma tensão contante e debilitante entre o amor de uma mãe por um filho e a lembrança da violentação que lhe deu origem. O pai biológico é, claro, o do sonho, não aquele que recorda como pai. E tudo só piora quando ele reaparece, de uma forma bastante fantasmagórica. E volta a desaparecer, de um modo quase igualmente fantástico, deixando para trás um rasto de perturbação e confissões.
Este é um conto no qual os elementos fantásticos e de terror contribuem para acentuar o que de terrível existe na situação, e onde as personagens não chegam propriamente a ter direito a redenção. Um conto muito bem construído. Bastante bom.
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