Para mim, um dos principais motivos de interesse para ler histórias tradicionais ou populares, quer sejam estas dos Irmãos Grimm, quer sejam compilações de outros autores, é descobrir nelas as raízes de muita da literatura europeia ou de inspiração europeia dos últimos dois ou três séculos, e muito em especial da fantasia nascida no século XX. É um interesse que combate o desinteresse provocado pelo seu caráter repetitivo, por reencontrar muitos dos mesmos elementos num nunca acabar de histórias, e que ajuda a fazer com que eu regresse sempre a estas páginas mesmo que de forma intercalada com umas pausas de vez em quando.
Vem isto a propósito, como é fácil de compreender, desta história. É que A Cotovia Cantante e Saltitante, apesar de ser uma história tradicional bastante convencional (ou talvez por isso, na verdade), está repleta de pequenos e grandes elementos que se tornaram depois comuns na fantasia.
Um pai tem três filhas (claro que só pode ter três). Um dia parte de viagem e pergunta às filhas o que querem que lhes traga, ao que as duas de que menos gosta lhe respondem pedindo joias e a preferida pede apenas uma cotovia cantante e saltitante. Mas as joias são mais fáceis de arranjar que a cotovia; na verdade, a tentativa de encontrar o presente para a filha predileta vai pô-lo em perigo e vai fazer-lhe prometer a um leão falante, para salvar a vida, que lhe entregaria a primeira coisa que fosse ao seu encontro quando chegasse a casa. Naturalmente, essa primeira coisa foi a filha preferida, e está dado o pontapé de partida para a série de aventuras que a rapariga vai viver.
Há também nesta história qualquer coisa de Mil e Uma Noites; pelo menos houve nela qualquer coisa que me fez lembrar as adaptações de alguns dos contos das Mil e Uma Noites que li em miúdo. É uma boa história. Convencional, claro, com tudo o que isso implica, mas boa.
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