domingo, 18 de julho de 2021

Mário de Carvalho: O Trombone

A grande maioria destes contos de Mário de Carvalho são simplesmente divertidos, independentemente das outras qualidades que possam ter. Isto é, são contos escritos com um claro objetivo de divertir, imagino que o próprio escritor em primeiro lugar, e os leitores, já agora, também. A maioria mas nem todos. Por exemplo este, O Trombone, traz consigo também uma certa melancolia.

O protagonista é um velho que, por se ter visto sozinho, é convencido a abandonar a sua aldeia de origem e vir viver com a família para a cidade, acabando por aterrar no Beco das Sardinheiras. Mas não é o facto de ter a família por perto que lhe anula a solidão, e o velho arrasta-se tristonho pela vida, aparentemente com saudades de tudo. Os familiares tentam alegrá-lo, devolver-lhe um pouco de interesse pela vida e, como o homem tocava saxofone na banda da aldeia, resolveram arranjar-lhe um saxofone... na candonga. Só que o que a candonga arranjou foi um trombone. Mas mesmo assim o homem acabou por se interessar pelo instrumento.

Mas já se sabe que no Beco das Sardinheiras há sempre qualquer coisa de fantástico a estragar os melhores planos. Este caso não é exceção. O trombone, ao ser tocado, deforma as coisas em volta, cada vez mais, até que as faz desaparecer. É uma espécie de buraco negro musical. E lá fica o velho sem trombone, já não só triste mas agora também irritado. E o conto acaba assim, bastante menos divertido que os restantes, bastante mais agridoce, apesar de escrito com a competência habitual.

Contos anteriores deste livro:

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