quarta-feira, 21 de julho de 2021

Irmãos Grimm: O Pobre e o Rico

Há contos em que basta o título para se perceber com quase total certeza o que aí vem, e O Pobre e o Rico é um desses contos. Porquê? Porque além desta história dos Irmãos Grimm há milhares de outras com o mesmíssimo tema e o mesmíssimo enredo, em boa parte porque na nossa civilização judaico-cristã as histórias bíblicas tiveram uma influência muito grande na literatura em geral, popular ou não, e na Bíblia há aquela passagem célebre em que Jesus diz aos discípulos qualquer coisa sobre mais depressa passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.

E, embora por vezes aconteça, este conto nem tenta disfarçar a inspiração bíblica. É fantástico cristão assumido desde a primeira frase, que situa o conto nos tempos em que "o bom Deus ainda andava na Terra entre os homens". O que faz mover a narrativa são milagres que esse Deus faz para benefício de pobres de bom coração, os quais vão despertar a cobiça de ricos que o têm mau, e a ideia-base da história é a incapacidade dos ricos de aproveitar o milagre concedido, por não compreenderem a bondade que tem de lhes estar subjacente.

Tudo muito de acordo com o que expectável, o que constitui a velha pecha das ficções de base cristã; só muito raramente incluem algo de minimamente surpreendente, e portanto de interessante. Interesse há na longa nota em que, como habitualmente, os Grimm estabelecem relações entre este conto e outros, incluindo ficções mais antigas que o cristianismo e/ou oriundas de lugares em que a religião dominante é outra. Sim, que os desejos satisfeitos por milagre divino e cristão, para dar um exemplo entre vários possíveis, têm relações evidentes com os desejos satisfeitos por outros meios mágicos, nem que seja o simples esfregar de uma lâmpada para de lá fazer sair um génio. E eu acho que li uma história assim em algum lado.

Contos anteriores deste livro:

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